por Juliana de Castro
Nesta edição, apresentamos as impressões de Fernanda Vasconcelos, Ana Aparecida Rocha e Suele Conde de sua participação na Atividade Preparatória do Eixo 3: Analista-trauma.
Fernanda Vasconcelos
Na Atividade Preparatória para a V Jornada, me peguei pensando que a análise talvez seja o único trabalho em que através da linguagem há uma direção ao fora de sentido. Me parece um ofício completamente distinto dos demais que vemos operar na sociedade e que, por isso, exige uma posição absolutamente singular. Esta preparatória girou em torno do tema analista-trauma e os textos apresentados ressoaram em mim no tangente à questão do lugar do analista. O analista-trauma como aquele que perturba o discurso comum para autorizar o discurso do inconsciente e que perturba as defesas contra o real sem lei, através do ato analítico. Essas frases orientam o trabalho de análise, que vai além da decifração e acolhe o indizível. Na contramão de outros discursos, numa análise é possível testemunhar o avanço diante do que não se fecha em um significado e produz efeitos que tocam o corpo.
Ana Aparecida Rocha
O lugar do analista e o seu modo de operar em uma experiência analítica parece, ao longo da existência da psicanálise, aproximar-se daquilo que é traumático e que ao se tornar acontecimento para o falasser o atravessa, marcando-o com um indizível que, na singularidade de cada um, determinará efeitos. Como operaria o trabalho do analista-trauma? O analista seria pensado como aquele que traumatiza o discurso comum para fazer surgir o discurso do inconsciente. Mas que inconsciente? O inconsciente real onde a manobra proposta seria perturbar a defesa, deixando um lugar que, ao se esvaziar, não decifra e faz eclodir o que é verdadeiramente traumático: a relação de cada um com a língua. O analista-trauma corre riscos, surpreende, recorta o equívoco e provoca uma saída inédita para o gozo. Faz advir o fora de sentido onde as provocações sobre este causarão achados tornando assim o trauma vivificante.
Suele Conde Soares
A atividade em torno do terceiro Eixo nos lança a pergunta acerca do analista como trauma. Como o analista faz parte de algo que se inscreveu para o falante muito cedo em sua vida? Com essa operação, é como se o analista pudesse mexer na temporalidade em que o trauma se deu. Não havendo estado lá historicamente, o analista pudesse, de algum modo, com o recurso da linguagem, traumatizar o corpo se utilizando de restos sonoros d’alíngua. Lucíola Macêdo, como Mais-um desse cartel nos deu uma boa pista: “Sonhos e testemunhos”.

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