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Boletim Baque

Editorial Boletim Baque #04

por Margarida Assad (EBP/AMP)

Neste Boletim chegamos ao terceiro e último dos três Eixos de trabalho da V Jornada da Seção Nordeste. Chegamos com entusiasmo e o desejo decidido pelo que irá ocorrer nos dias 5 e 6 de dezembro. Certamente ela irá refletir o trabalho realizado pela Seção durante este ano, em torno do Trauma, tema escolhido pela Comissão Científica.

Neste número, trazemos o excelente trabalho que foi apresentado na terceira preparatória, Analista Trauma, nos cinco textos das cartelizantes. No primeiro deles, Cleide Monteiro demonstra através do caso de Minna, apresentado por Araceli Fuentes, como o analista tem ferramentas clínicas para operar diante de um trauma tão horrendo, como um atentado terrorista. Um caso riquíssimo que certamente poderá orientar àqueles que se interessarem pelo lugar de trauma que o analista pode dispor para operar.  Uma instigante citação de Ricardo Seldes, trazida por Cleide, resume esse lugar: “combater a pulsão de morte com o mesmo trauma, isto é, o trauma transforma-se em vivificante”. Leiam o trabalho, procurem as referências, o caso ilustra de forma esclarecedora o que diz Seldes.

Silvia Gusmão aborda o lugar trauma do analista pelo viés de outra pegada de Lacan: o verdadeiro trauma é a língua. Através de um consistente desenvolvimento teórico, Sílvia vai nos demonstrando como manejar com o vazio no simbólico deixado pelo trauma, e afirma: “o analista não opera apagando o trauma, mas sustentando-o como real… No processo de simbolização que o trauma convoca, trata-se de o analista não intervir para anulá-lo nem de emprestar-lhe um sentido.” Uma excelente indicação para abordar muitos dos casos que nos chegam, tanto no consultório como nas instituições.

Interessante o percurso que tomou Rosemarie Fernandes Mooneyhan, sua contribuição ao cartel do Eixo 3 veio pela questão do manejo da interpretação do analista. Rosemarie percorre a história da interpretação desde Freud a Lacan apontando que o analista de nossa época opera melhor ao se instalar no lugar de perturbar a defesa. Ela nos traz o relato de passe de Marcus André Vieira, onde o sintoma de angústia ao se experimentar agarrado pelo outro  pôde desaparecer quando o gozo que ali se encontrava cedeu: “encontrara um gozo incluído no trauma: o de deixar agarrar e assim enlaçar. Dito de outra forma: a mesma chave de braço que apertava a garganta podia ser abraço.”  Vemos aí o mesmo mecanismo apontado por Seldes e citado por Cleide: combater o trauma com o mesmo trauma. Os trabalhos em perfeita sintonia.

O texto de Roberta Gusmão segue pela indicação do analista perturbador da defesa, tão pregnante nos dias atuais,  intervindo sobre o Significante assemântico S1. Roberta nos traz o passe de Alejandro Reinoso, demonstrando que seu sintoma de seriedade pode encontrar o riso a partir de um sonho. Vale à pena buscar no texto a maneira como o analista operou permitindo uma resolução ao seu sintoma. Roberta destaca: “produz, com seu ato, muitas vezes o efeito de perplexidade no sujeito, pois o expõe ao inesperado e ao que é traumático, desestabilizando o que até então se sustentava como um modo de se proteger do real…”

Por fim temos o texto da colega Lucíola Macedo, mais-um do Cartel. Lucíola traz uma leitura minuciosa e aprofundada de cada um dos trabalhos das cartelizantes, jogando luz sobre os detalhes vivificantes dos textos. Ao final Lucíola nos dá uma excelente indicação no sentido de nos reportarmos aos sonhos uma vez que, como foi dito por Freud, nele há um ponto indizível nomeado por ele de umbigo dos sonhos. Ponto que indica o trauma. Cito Lucíola: “nesse ponto, esbarra-se com o ininterpretável, com o limite onde todo e qualquer sentido se detém, a indicar presença do real nos sonhos… favorecendo a que no lugar do furo do trauma, daquilo que não se liga a nada, se imagine o real. O trabalho do sonho poderá operar, nessa perspectiva, como um modo de tangenciar o real.” Preciosa indicação de seguirmos os sonhos no caminho de nos aproximarmos do real do trauma.

O Boletim 4 segue trazendo ainda, na rubrica Impactos, os efeitos da apresentação do Eixo 3 nas colegas: Ana Aparecida Rocha, Fernanda Vasconcelos e Suele Conde, cada uma de uma das cidades de nossa Seção, respectivamente, Natal, Recife e João Pessoa. Curioso vermos como a singularidade de cada um enriquece nossa leitura, provocando o aggiornamento destacado por Miller para um trabalho coletivo de atualização da nossa prática. O Um e o Múltiplo, como uma banda de Moebius, cria o movimento em que consiste uma Escola que não se pauta pela hierarquia, mas pelo que cada um pode deixar cair no buraco vazio do que é um analista, o que mantém o Vivo da Escola.

Na rubrica Marcas, três colegas da Seção Nordeste foram convidadas por Cláudia Formiga, Coordenadora da Comissão de Mídias, a fazerem breves comentários sobre referências em Lacan que pudessem contribuir com o tema da V Jornada. Os temas vieram na medida: Fantasma, comentado por Karynna Nóbrega, Inconsciente, por Gisella Sette e Violência, por Lidia Pessoa. Vale muito a pena ler e buscar essas referências.

Também neste número os leitores terão uma novidade: o link para acessarem o resultado da garimpagem cuidadosa da Equipe das Referências: Eliene Rodrigues de Lima, Erick Leonardo Pereira, José Ronaldo de Paulo, Liana Feldman, Marina Vasconcelos e Romero Ouriques, coordenada pelo colega José Carlos Lapenda. Lá os interessados terão muitas indicações que poderão auxiliar na elaboração dos seus textos. Não deixem de conferir acessando o link na seção Referências Bibliográficas.

E novamente o Boletim não dispensa a tão preciosa Arte que nos enlaça no coletivo. O texto de Gregório Duvivier, O Céu da Língua, é uma verdadeira paixão pelas letras. Digo letra, pois Gregório extrai de cada palavra um gozo latente que só pela sua sabedoria pôde surgir. Em TraumArte, José Augusto Rocha nos traz a sua leitura desse texto espetacular que saiu da cabeça inteligente de Gregório Duvivier. Confiram!

Um robusto Boletim que certamente trará boas contribuições aos trabalhos da V Jornada.

Boa leitura.

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