por Anderson Barbosa (Comissão de Mídias)
Nesta rubrica — Impactos, assim denominada para resgatar o vivo das atividades preparatórias da V Jornada da Seção Nordeste —, buscamos recuperar o trauma por aquilo que ele tem de choque, de baque com o corpo (como sugere nosso título) e de impacto. Ao convocar aqueles que participaram das atividades a dizer algo sobre isso, pretendemos mobilizar nossa comunidade analítica, no território nordestino, a elaborar um fragmento de escrita a partir de uma frase, de uma imagem, de uma reminiscência.
Trata-se de tomar pela mão um significante que sendo Um — como aponta Lacan no Seminário 20 —, não é qualquer um e pode, quem sabe, alçar vôo e se inscrever. Nesta primeira edição, Marina Cursino (NPJ), Marina Fragoso (NPJ) e Paulo Carvalho se lançam nesse esforço de poesia.
Marina Cursino: O ponto que chamou à atenção na Atividade Preparatória para a V Jornada foi a apresentação do vídeo. Ele provoca, nos convida a olhar para a temática do trauma para além da inscrição primeira do significante, direcionando o foco para experiências culturalmente compreendidas como traumáticas e violentas. Senti-me convocada ao trabalho, a realizar uma leitura de aspectos da nossa cultura.
Marina Fragoso: Trauma, amor, sexo, mãe, pai.
É pelo impacto da linguagem que o vídeo de lançamento da V Jornada da Seção Nordeste nos convoca a colocar palavras entre o buraco e o excesso, raízes da experiência traumática com a linguagem. Trata-se de um convite ao trabalho pela via onde o analista pode operar: nas tessituras diante do impossível. No livro Causa e Consentimento, Miller destaca que o axioma lacaniano “não há relação sexual” lança luz sobre algo que aparece com frequência na prática analítica: a clara desproporção entre causa e efeito. É a partir dessa desproporção, tão bem elucidada no vídeo de lançamento, que me sinto convocada ao trabalho da Jornada, na tentativa de formular algo da experiência clínica, cuja inscrição se dá unicamente no singular. Vamos ao trabalho!
Paulo Carvalho: “No final da guerra, observou-se que os combatentes voltavam mudos do campo de batalha, não mais ricos, e sim mais pobres em experiência comunicável” – O narrador, Walter Benjamin.
O argumento da V Jornada ecoou para mim esta passagem de Walter Benjamin presente em “O narrador” (1936). Os soldados da Primeira Guerra não voltaram do front com histórias sobre conquistas e tragédias. Estes homens encontravam-se emudecidos, incapazes de contar, transmitir e aprender com o que se passara nas trincheiras – não obstante toda inovação trazida técnica. Benjamin ressoaria portanto o nosso argumento, assim como uma ética que pode fazer frente à “interdição da partilha” e à “proibição da memória” que marcam a nossa época.

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