por Cláudia Formiga (EBP/AMP)
Coordenadora da Comissão de Mídias 
É com alegria e ainda na vibração do impacto causado pelo lançamento da V Jornada da Seção Nordeste, que apresentamos o primeiro número do seu Boletim, BAQUE. Com ele, inicia-se aqui uma outra jornada: a da circulação dos textos, ecos, reflexões e o que mais se decanta de um trabalho que vem crescendo, tomando o corpo de um entusiasmo que nos levará até Recife, em dezembro.
O trauma é o tema que nos reúne este ano em uma Jornada. E este primeiro Boletim é todo dedicado a esse lançamento, que aconteceu em nossa Seção há pouco mais de duas semanas. O foco nessa noite, o Argumento, brilhantemente construído pelas coordenadoras da Comissão Científica, aborda o trauma nas dimensões que lhe conferem a descoberta freudiana e o ensino de Lacan: não como consequência linear de um acontecimento vivido, mas como encontro contingente com o real; aquilo que não se pode prever nem elaborar e que insiste em retornar, um “impossível de dizer, experiência farta de excesso, que delimita um antes e um depois em nossa vida, de modo contingente”.
Com esse “rufar de tambores”, já pudemos sentir o tom do que nos reserva essa Jornada! É sobre essa marca – “efeito único e singular sobre o sujeito” – que seguiremos até dezembro, em nosso esforço de circunscrever e explorar o trauma e seus desdobramentos no plano epistêmico, no da clínica e na política da psicanálise.
A escolha do nome BAQUE para este Boletim nasceu da nossa vontade de nomear o impacto. Baque, palavra que, no corpo e na língua, transmite o instante em que algo nos atinge, desloca e reverbera. É golpe, susto, tropeço. Mas também eco, que permanece e ressoa o impossível de dizer.
Em nosso território Nordeste, baque carrega ainda outros matizes: no maracatu, uma de suas expressões culturais mais punjentes, fala-se de “baque virado” ou “baque solto” para marcar o compasso, o rítmo que anima e orienta um cortejo. No repente, baque é improviso, é verso certeiro, flechada. Assim também, o trauma: compasso inesperado, verso que se imprime, som que toca o corpo e repercute.
No Recife, terra de maracatu e locus de nossa Jornada, baque é ritmo, impacto. É tambor que estronda o peito, passo que avança e história que resiste. Um nome possível para dizer do encontro com aquilo que irrompe e fura a trama significante?
Abrindo este primeiro número, as palavras de Apresentação, de Bibiana Poggi, coordenadora geral da Jornada, que, mais que acolhida, são um convite ao trabalho; Em seguida, no Argumento, escrito por Anamaria Vasconcelos e Cassandra Dias, uma densa elaboração sobre o trauma se desdobra em três eixos de investigação: a tela da fantasia, o horizonte do ato e o analista trauma, que nos convidam a examinar, na clínica e na cultura, as diversas formas de resposta ao trauma. Conferimos em seguida a resenha de Késia Ramos, ”Imagem e trauma: uma composição da artista Kais Brasil em furo e excesso”. Nela, uma leitura do trauma em sua dimensão estrutural, a partir da obra “Passagem 7”, que ilustra o cartaz da Jornada. Neste número inauguramos a rubrica Impactos. Destinada a captar o vivo de nossas preparatórias, essa rubrica inicia com as impressões de Marina Cursino, Paulo Carvalho e Marina Fragoso sobre o que os “causou” a atividade de lançamento; Em seguida, no vídeo de lançamento que a Comissão de Mídias preparou, as cenas icônicas do cinema de terror e suspense, entrelaçadas ao real do político em nossos dias, mais que “ilustrar“ o trauma, conseguem provocar em nós algo da experiência que ele suscita: uma expectativa que se alonga, o instante de ruptura, o desconforto que permanece. No final, a chamada da Diretora de Cartéis, Karynna Nóbrega, convoca ao trabalho em cartéis fulgurantes. Como ultimíssimo, lembramos ao caro leitor e à cara leitora para que visitem o site da V Jornada, onde já é possível conferir os prazos para o envio de trabalhos e, ainda, garantir o seu desconto antes que se encerre este lote de inscrições.
Entre choque e cadência, Baque faz a sua estréia. Que ele cumpra bem sua função de abrigar as reflexões, questões, transferências e o desejo de Escola que põe em movimento toda uma comunidade de trabalho rumo à V Jornada da Seção Nordeste. Que o seu fazer sirva para cada um, como estímulo e um chamado à escrita sobre o que não cessa de não se inscrever.
Boa leitura!

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