por Cassandra Dias

A rubrica In Locu ilumina dessa vez, um lugar muito especial na cidade de João Pessoa: a Praia do Jacaré.
Trata-se de uma praia fluvial, resultado do encontro entre o rio Sanhauá e o mar, localizada no município de Cabedelo, dentro da região metropolitana de João Pessoa. O nome Jacaré vem do hidroavião que trazia os correios para a cidade em 1960 e que ao frear no rio fazia um movimento que lembrava o nado de um jacaré.
Esse lugar bucólico recebe turistas de todas as partes para assistirem ao espetáculo do pôr do sol nas águas do rio ao som do bolero de Ravel. A tradição surgiu quando um casal francês comprou um pequeno restaurante e tinha por hábito ouvir essa música sempre no mesmo horário.
O músico Jurandir do Sax foi contratado como atração a partir dos anos 2000 e “o pôr do sol do Jacaré” ganhou fama mundial, transformando-se em um dos principais pontos turísticos da capital paraibana, parada obrigatória para o visitante e também para os moradores da cidade.
O músico apresenta diariamente ao público, uma cena de rara beleza: surge de pé em uma canoa, navegando pelo rio na hora do pôr do sol, executando o bolero de Ravel em seu sax . Ele diz que ao iniciar esse ritual “percebeu que era aquilo que queria fazer”. Sempre de roupa branca e no mesmo horário, executa os inconfundíveis acordes da música que duram os mesmos 17 minutos que o sol leva para se esconder.
A música foi composta por Maurice Ravel, compositor e pianista francês e é considerada a obra francesa mais tocada no mundo desde quando foi lançada em 1928. Estima-se que a cada 15 minutos alguém no mundo toque o Bolero de Ravel. Possui um movimento único, ritmo invariável, melodia uniforme e repetitiva que garante a dramaticidade para o grande espetáculo da natureza que se exibe desavergonhadamente, aplaudida por aqueles que o assistem.
Na terra em que o sol nasce primeiro, o rio que se tinge de dourado e laranja é testemunha do momento em que o sol beija a terra sob os acordes do bolero de Ravel. Pois, se é no ponto mais oriental das Américas que o sol nasce primeiro é também onde ele primeiro se perde. O rio segue seu curso silencioso, acolhendo a noite que se derrama sobre a praia do Jacaré.
Assim como o analista, testemunha de uma perda.
[1] “o que se passa, o que se dá, o que se percebe nas ruas e nas praias e nas pedras que recebem o sol primeiro – mas que primeiro também o perdem, portanto.
SANTOS, F. Editorial Boletim Hiante nº1. Disponível em: https://ebp.org.br/nordeste/jornadas/2024/editorial-boletim-hiante-01/
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