por Suele Conde Soares
“Amores são águas doces
Paixões são águas salgadas
Queria que a vida fosse
Essas águas misturadas.
Eu que já fui afluente
Das águas da fantasia
Hoje molho mansamente
As margens da poesia…”(Memória das águas.
Maria Bethânia).

Nesta edição do In locu aterrissamos sobre o Hotel Globo e o Porto do Capim, localizados no Centro Histórico da cidade de João Pessoa – Paraíba. O Hotel Globo constitui um dos cartões postais que atrai visitantes in and out, que moram na cidade e que vêm de fora para visitação. Construído em 1929 por “Seu Marinheiro”, atualmente o hotel serve de museu, bem como é aberto a feirinhas artística e cultural, com obras e apresentações de artistas da região. Adentrando o Hotel, chegando em seu jardim, tem-se a bela vista do Rio Sanhauá, rio que banha os municípios de Bayeux e João Pessoa. Um dos principais afluentes do Rio Paraíba, foi em sua foz que João Pessoa, a capital do estado, foi fundada, no século XVI.[1]
É também do jardim do Hotel Globo que nosso olhar é atraído pelo concreto de edificações que constituíram o antigo Porto do Varadouro, hoje mais conhecido como Porto do Capim, principal porto da cidade, antes da existência do Porto de Cabedelo. Localizado à beira do rio Sanhauá, era no Porto do Capim onde todo o comércio e grandes negócios da cidade funcionavam.
O Porto do Capim vem sendo habitado por populações ribeirinhas que sofrem com o abandono e descaso. São famílias que vivem e retiram da área seu sustento como é o caso dos pescadores e marisqueiros, bem como de trabalhadores que sem a atividade do comércio que outrora existia ficam desempregados. Atualmente, está em vigor um Projeto municipal de urbanização do Porto do Capim que visa revitalizar a área para incentivar o turismo e moradia para a população local.
A comunidade do Porto do Capim resiste. Passando de área de intensa atividade comercial à perda de importância e descaso, os moradores se voltam ao rio Sanhauá e dele tentam retirar sua sobrevivência. Por meio das atividades de pesca e navegação, o rio pode voltar a ganhar vida. Ainda que, é preciso ressaltar, a falta de saneamento básico na região provoca danos às águas que são meio de vida da população local.
Sanhauá, que em tupi-guarani que quer dizer “peixe-ligeiro” nos sinaliza os tempos que correm. A visão do Rio Sanhauá, margeando toda a cidade, nos faz percorrer suas águas no movimento temporal próprio dos rios. Rios que seguem, que contornam, que são foz e nascentes.
Hotel Globo, porta de acesso ao Rio Sanhauá.
Rio Sanhauá, afluente do rio Paraíba.
Para ser afluente se faz antes necessário cruzar o umbral de uma porta. É o nosso filete de água, nossa travessia do Rubicão.[2]
É por essa vereda, que marca a história da cidade de João Pessoa, que convidamos os cosmopolitanos, regionais ou não, a desembarcarem em solo paraibano para a IV Jornada da Seção Nordeste. Que cada um possa trazer seu corpo para circular pelo concreto da cidade e deitar o olhar nas águas do Rio Sanhauá que é porto por onde passa.
Para atrair embarcações para aportar aqui, trazemos “Memória das águas” com Maria Bethânia nos chamando a navegar. João Pessoa, nos dias 13 e 14 de Dezembro será porto para a psicanálise de orientação lacaniana. Aportemo-nos!
[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Sanhau%C3%A1
[2] chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/http://www.opcaolacaniana.com.br/pdf/numero_13/Passagem_ao_ato.pdf
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