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Eixo 1: “As coisas do amor”

24 de julho de 20244 minute read

IV Jornada da Seção Nordeste
Respostas do Real: contingências na clínica 13 e 14 de novembro de 2024
Eixo 1: “As coisas do amor”

Coordenação: Glacy Gonzales Gorski e Susane Zanotti

 O discurso capitalista é um aggiornamento do discurso do mestre, porém, é um falso discurso, uma vez que não tem a função de fazer barreira ao gozo e não faz laço social. Ademais, não há, nesse discurso, um direcionamento ao Outro, o que há é uma recusa de tudo que é do campo do simbólico. Ele foraclui a castração, elide o sujeito dividido, e o que domina são os imperativos: goze, consuma! A parceria do discurso da ciência viabiliza uma oferta ininterrupta de novos objetos, de modo que, no intuito de obturar a falta, promove um gozo autista, que desconhece limites. O verdadeiro mestre, então, passou a ser o mercado a serviço do capital. O discurso capitalista faz equivaler Sujeito barrado e objeto, transformando a mercadoria em objetos mais de gozar, o que produz um curto-circuito do desejo e a desvalorização da palavra1. E, mais ainda, segundo Lacan, “Toda ordem, todo discurso aparentado com o capitalismo deixa de lado o que chamaremos, simplesmente, de coisas do amor”2.

O discurso analítico, no entanto, é o avesso do discurso do mestre3, sendo o único discurso que não visa à dominação e que tem o amor como mola4. Freud segue a trilha desbravada por Sócrates – que, naquela época, estava na contramão da “corrente social” -, e escolhe “servir a Eros para servir-se dele”5. Trata-se de um amor que não almeja o bem, mas que “representa a base movediça da infecção social”6. O amor inventado por Freud, o amor de transferência, é a “chave para a abertura do inconsciente, desde sua vertente de Sujeito suposto Saber, operando o fechamento da vertente de gozo”7.

Assim, por um lado, temos o capitalismo, que exclui as coisas do amor, e, por outro, no sentido oposto, temos a Psicanálise, que aposta na “inoculação” do amor à medida que “só o amor permite ao gozo condescender ao desejo”8. Num primeiro momento, os analistas acreditavam que o pivô da transferência seria o sujeito suposto saber, no entanto, Lacan, no seu último ensino, segundo Miller, realiza uma inversão ao afirmar que o que “faz existir o inconsciente como saber é o amor”, e assinala que é o amor que viabiliza uma “mediação entre os um-sozinho”9.

Tendo como referência o amor como “um acontecimento de um dizer”10, esse eixo se dedica a abordar o amor e suas variações na clínica psicanalítica: dos inícios da prática, desde a demanda por um tratamento e o desejo do analista, até o final de uma análise, que faz surgir uma nova maneira de amar.

Ao interrogar o lugar do amor na prática analítica nos tempos atuais, convidamos cada um a formalizar sua experiência, tendo como foco as consequências da exclusão das coisas do amor para o falasser, privilegiando um dos seguintes aspectos:

  1. o amor na clínica do autismo, das neuroses, das psicoses e das perversões, além de amores loucos;
  2. o amor no início de tratamento;
  3. o amor no final de análise;
  4. as condições da transferência na clínica contemporânea.

1 Para um aprofundamento conferir em LACAN, J. Discours de Jacques Lacan à la Université de Milano em 12 de maio de 1972 e Radiofonia. In Outros Escritos, Rio de Janeiro: Zahar, 2003, pp. 400-447.

2 LACAN, J. Estou falando com as paredes.Zahar: Rio de Janeiro, 2011, p. 88.

3 LACAN, J. [1969-1970] O Seminário livro 17 o avesso da psicanálise, capítulo l, Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor, 1992, pp. 9-23.

4 LACAN, J. [1960-1961] O Seminário livro 8 a transferência, Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor, 1992.

5 Idem, ibidem, p.17.

6 Idem, ibidem, p.17.

7 OLMEDO. M. J. Variaciones del amor. In https://discordia.jornadaselp.com/variaciones-del-amor/#.

8 LACAN, J. [1962-1963] O Seminário livro 10, a angústia, Rio de Janeiro: Zahar, p.197.

9 MILLER, J.A. Uma fantasia, In Opção Lacaniana, n.42. São Paulo: Eolia, fev. 2005, p.18.

10 LACAN, J., [1973-1974] O Seminário 21, Le non – Dupes Errent, lição de 18 de dezembro de 1973. inédito.

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