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Editorial Boletim Hiante #01

15 de julho de 20245 minute read
por Francisco Santos

“Vocês concordarão comigo em que o um que é introduzido pela experiência do inconsciente é o um da fenda, do traço, da ruptura”[1]

A Jornada está lançada, e seu argumento, já disponível no site (https://ebp.org.br/nordeste/jornadas/2024/a-jornada/argumento/) nos convoca. Através de um texto ao mesmo tempo consistente e comunicante, a Comissão Científica circunscreve o hodierno do mundo dentro da perspectiva lacaniana, isto é, uma clínica orientada ao real, pelo real que se nos apresenta cotidianamente nos consultórios e territórios.

Também, aponta para uma clínica cada vez mais implicada com a política, embasada com a episteme, cujo desenvolvimento se dá através de espaços e ações como uma jornada, como a nossa IV Jornada. Pois, a episteme precisa da consistência de um O aturdito, mas também necessita da clareza de um Estádio do espelho para tratar do mistério humano, e isto foi possível no argumento concebido – e tratado – por Elizabete e Cleide.

Neste primeiro número do Boletim Hiante  trazemos um outro argumento, o do próprio boletim em sua função. É a toada que a Comissão de Divulgação dá a esta publicação. E desta publicação à Jornada como um todo, há toda uma construção, um trabalho feito a muitas mãos e desejos, os quais estão devidamente nomeados na Estrutura da Jornada, com suas comissões e integrantes, estes que dizemos “subamos”.

O Boletim lança também a rubrica In locu, que traz o território de onde parte e onde se dará a IV Jornada da Seção Nordeste: João Pessoa. O que se passa, o que se dá, o que se percebe nas ruas e nas praias e nas pedras que recebem o sol primeiro – mas que primeiro também o perdem, portanto.

Referências ressonantes

A IV Jornada também se apresenta, em seu site (https://ebp.org.br/nordeste/jornadas/2024/a-jornada/referencias-bibliograficas/) através de um espaço de consistentes sugestões de leitura, as Referências ressonantes. São sugestões preciosas que partem dos textos freudianos, percorrendo a obra daquele que decididamente recupera e avança na psicanálise, com destaque para os textos que compõem seu último e ultimíssimo ensino, bem como as análises presentes nos cursos de quem atualmente sustenta este movimento, Miller, e não somente, mas alguns daqueles que se debruçam sobre as ressonâncias epistêmicas legadas, a clínica atual e a política visadas pela orientação lacaniana.

O trabalho da Comissão de Referências Bibliográficas vai então no sentido de trazer importantes embasamentos, mas também atuais ressonâncias para quem se interessar em acompanhar o trabalho da Jornada e, claro, produzir seus próprios trabalhos para serem discutidos no seio do evento anual da Seção Nordeste da Escola Brasileira de Psicanálise.

Um boletim-função: Hiante

“Numa frase pronunciada, escrita, alguma coisa se estatela”[2]

Um boletim é uma ferramenta. Como toda ferramenta, existe com(o) uma função. Relatar, apresentar, informar. São funções.

Através das discussões já em curso neste ano de 2024, desde os seminários da Seção NE até o que nos é convocado a partir do vindouro Congresso Brasileiro, em meio a tantos conceitos discutidos em torno do Real tal como se apresenta na clínica e como operado por Lacan em forma de corte epistêmico no seio da teoria psicanalítica[3], pensamos um boletim cuja função é sua própria denominação.

O boletim da IV Jornada da Seção NE se chama Boletim Hiante.

O hiante é a qualidade da hiância: “A ruptura, a fenda, o traço da abertura faz surgir a ausência – como o grito não se perfila sobre fundo de silêncio, mas, ao contrário, o faz surgir como silêncio”[4].

Quando damos nomes às coisas, usamos substantivos. Assim são também as publicações, como os boletins. Porém, nesta IV Jornada, teremos um boletim que é um adjetivo, posto que é função. Um Boletim Hiante  é então esse boletim do entre-dois, do furo não a ser preenchido, mas provocador de questões, uma fenda aberta na rede.

É  fenda, faz furo, mas não sem orientação. A orientação do real lacaniano tão bem destacada no argumento de Cleide Monteiro e Elizabete Siqueira.

E nessa orientação, a Jornada em seus preâmbulos opera não somente com a escrita do Boletim, mas com as vozes na rua, as ressonâncias da arte e as ondas dos podcasts.

Como disse Lacan, “faltam questões e respostas”. As respostas são do real, “pedaços de real” que surgem na clínica com essa orientação; já as questões, são estas que esperamos que surjam no traço do boletim, provocando e convocando os trabalhos e as discussões que nos apresentarão ainda outras questões, em dezembro, aqui em João Pessoa.


[1]  LACAN, J (1964). O seminário, livro 11, os quatro conceitos fundamentais em psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 2008, p. 33
[2]  LACAN, J (1964). O seminário, livro 11, os quatro conceitos fundamentais em psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 2008, p. 32
[3]  HORNE, B.; GURGEL, I. (Orgs.) O campo uniano. Goiânia: Editora Ares, 2022.
[4]  LACAN, J (1964). O seminário, livro 11, os quatro conceitos fundamentais em psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 2008, p. 33

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