- Por Roberta de Araújo Gusmão (da Comissão de Referências Bibliográficas)
A partir da indagação apresentada no Eixo 1 da Jornada “Como situar a noção de acontecimento de corpo à luz da noção de delírio generalizado?” destacamos inicialmente a fala de Bernardino Horne: “Pensar no delírio generalizado implica partir do UM. O Outro não existe. O S2 abre, então, um discurso sempre delirante, pois fala do que não há, da inexistência da relação sexual, de uma significante pura existência; um sem-sentido original” [1]. O que irá resultar em um outro sentido do tratamento, o qual, não é mais o que vai do Simbólico ao Imaginário, mas parte do sem-sentido que se orienta do Simbólico ao Real.
Lembramos aqui uma citação de Patricio A Bayon sobre a referência de Lacan ao sintoma como o que opera de modo selvagem, ele nos diz: “O selvagem remete ao gozo do acontecimento de corpo, é um gozo contingente que se escreve recortando-se de lalíngua e, além disso, é um gozo sem Outro” [2].
Por fim, sobre o sintoma como acontecimento de corpo, Daniel Roy coloca que o sintoma é o acontecimento que vem afetar o corpo, vem mostrar sua trama, sua lógica. E segue: “esse sintoma é o fundamento de uma nova clínica, que é a dos efeitos corporais da linguagem – efeitos produzidos na consistência imaginária do corpo, em sua trama simbólica, em suas epifanias reais. Esses sintomas, que chamamos de novos, devem ser construídos no tratamento como um acontecimento de corpo de gozo, que são os únicos acontecimentos verdadeiros da vida, na vida de um homem” [3].
Referências
[1] Horne, B. O UM e a Foraclusão Generalizada – Boletim n⁰ 04 da XXII Jornada EBP-BAHIA. 26 de setembro de 2017.
[2] Alvares Bayon, P.. Três versões do Um e acontecimento de corpo. Curinga 53-54
[3] Roy, D. O que chamamos de “Acontecimento de Corpo”? Lacanian Review Online em 15/05/2021
- Por Késia Ramos (da Comissão de Referências Bibliográficas)
No processo de uma análise, podemos constatar na clínica que o corpo surge em suas três dimensões: imaginária, simbólica e real. Sigmund Freud ressalta a importância de o analista se atentar para como o corpo se apresenta durante a sessão. Freud ouviu a “participação na conversa” que as pernas de sua paciente, Elizabeth Von R, tiveram durante a sessão [1]. Suas pernas doíam e, segundo ele, a dor despertada persistia enquanto a paciente estivesse sob a influência da lembrança traumática.
Lacan reforça esse ensinamento ao dizer que “as dores que reaparecem, que se acentuam, que se tornam mais ou menos intoleráveis durante a própria sessão, fazem parte do discurso do sujeito” [2].