Gisella Sette
Maria Carolina Queiroz
Silvia Farias
Com o objetivo de ilustrar a relação do falasser com o mundo pela via do sinthoma, apresentamos dois fragmentos de casos clínicos publicados no Ensayos de Clínica Psicoanalítica Nodal, de Fabián Schejtman.
Desejamos evidenciar a flexibilidade dos sinthomas que, por um lado, podem se apresentar em estruturas subjetivas distintas e, por outro, podem ser substituídos por outras reparações sinthomáticas, em uma mesma estrutura.
Os casos escolhidos fizeram uso de um mesmo sinthoma anoréxico com diferentes funções.
No primeiro caso [1], Marina, uma psicótica, a anorexia sinthoma reparava o lapso de forma eficaz, porém a longo prazo produzia efeitos que colocavam a sua vida em risco. Esse sinthoma foi substituído, durante o tratamento, por reparações sinthomáticas mais adequadas. A anorexia enodava os três registros: real, simbólico e imaginário.
O caminho escolhido pelo analista foi intervir na subjetividade através de uma invenção: alimentar-se tomando banhos de imersão. Houve o aumento de peso, o que afastou o risco de morte, resultando no enodamento dos registros real e imaginário.
Posteriormente, surgiram ideias delirantes vinculadas à genealogia marinha, funcionando como reparação, enodando o simbólico e o imaginário.
O segundo caso clínico se trata de Júlia [2], que, com outra estrutura subjetiva, também fez uso da anorexia, desencadeada, por sua neurose, a partir do início da vida sexual. Dessa vez, a anorexia não operava como solução, mas solidária com a inibição, sinthoma que prejudicava seu relacionamento amoroso.
O analista – valendo-se de uma contingência, onde o objeto olhar se presentificou – tornou possível a substituição de uma nominação imaginária da inibição por uma outra nominação simbólica: a ruborização da face um sintoma/sinthoma.
Eis aí, através desses dois casos, como, na direção de um tratamento, o sinthoma surge operando de modo singular em estruturas clínicas distintas e funcionando de modo flexível e provisório.