Apresentação

Collage illustration vários artistas - Colaboração de Késia Ramos

Collage illustration vários artistas – Colaboração de Késia Ramos

“Cada um em seu mundo: todos delirantes?

“Cada um em seu mundo: todos delirantes?” É com satisfação enorme que venho nesta noite apresentar, sob esse título, a III Jornada da EBP – Seção Nordeste, que neste ano, o terceiro na pequena série de jornadas de nossa Seção, irá se realizar em Recife, nos dias 24 e 25 de novembro próximo e tem como convidado o colega Rômulo Ferreira da Silva, AME e membro EBP e AMP.

Quero antes de mais nada, agradecer a Cassandra Dias e em seu nome, à diretoria da Seção Nordeste pelo convite que me foi feito para coordenar esta Jornada, para coordenar o coletivo que vem se colocando a trabalho na preparação desta III Jornada. Por me permitir me lançar em um trabalho tão rico e de ritmo tão intenso, que tem me ensinado muito e do qual tem me gratificado muito também fazer parte.

Nossas Jornadas têm sido momentos importantes de trabalho, pra nós que fazemos a Seção Nordeste e para aqueles que frequentam as nossas atividades, um momento de encontro, troca, de aprendizado e também de consolidação de transferências à Seção Nordeste da Escola Brasileira de Psicanálise. A cada Jornada, de certa forma, avançamos um pouco mais no estudo de temas que tocam em pontos importantes da experiência clínica, política e epistêmica da psicanálise, que “aposta no sintoma como tratamento ao gozo para tornar possíveis os laços sociais”. Uma aposta que tem consequências na clínica, na forma como acolhemos o mal-estar daqueles a quem escutamos. Mas não só! Tem consequências também para-além da clínica, na leitura que nós, analistas, fazemos dos impasses que se nos apresentam na cena do mundo, do jogo político às formas do mal-estar em nossa época.

O tema desta III Jornada se alinha ao aforismo “Todo mundo é louco”, que orienta o próximo Congresso da AMP, em 2024.  “Todo mundo é louco”, com o acréscimo, “isto é, delirante” é o aforismo que, segundo J-A. Miller, resume a perspectiva com que Lacan, em seu último ensino, condensa a ideia de que todo saber tem o estatuto de delirante.

A Jornada deste ano nos faz então um convite a que procuremos tirar consequências dessa proposição de Lacan. Ao contrário do que poderia concluir uma leitura apressada desse aforismo “todos loucos…, delirantes” não se trata aí de nenhum determinismo diante de uma ‘normalidade” impossível de atingir, mas ao contrário. Com esse aforismo, tomado como bússola do seu último ensino, Lacan nos remete ao campo do possível da invenção de cada um diante do encontro com a linguagem.

No título que escolhemos para esta Jornada, “Cada um em seu mundo: todos delirantes?”, numa clara alusão a esse aforismo de Lacan, buscamos deslocar o acento de uma clínica estrutural para a perspectiva do Sinthoma, de forma que, a partir do Argumento, desdobrado em três eixos temáticos, possamos abordar o estatuto do corpo na atualidade; debater a clínica do falasser, com seus arranjos sinthomáticos e corpos fortemente afetados e refratários ao tratamento pela palavra; que possamos também nos interrogar sobre as mudanças por que passa o mundo e de que modo essas mudanças têm afetado a escuta analítica.

Miller explica que ao desenvolver o conceito de Sinthoma Lacan, em seu último ensino, vai apagar as distinções entre as categorias de neurose e psicose, ao enfatizar o modo de gozo em sua singularidade. Com esse conceito, muda-se o acento da prática analítica, “que trata de conduzir a trama de destino do sujeito da estrutura até os elementos primordiais, fora de articulação, quer dizer, fora de sentido, de conduzi-lo, pois, aos ellementos de sua existência contingente.”[1]

Qual a incidência que essa perspectiva do sinthoma tem sobre a prática da psicanálise, sobre o estatuto do psicanalista e mesmo sobre a psicanálise no mundo, é a pergunta que Miller faz nesse Seminário, a qual sugiro tomar como programa de estudo para este ano. E outras tantas que ainda iremos formular ao longo dessa jornada, tais como: e o Inconsciente? Como situá-lo na perspectiva do sinthoma? E a interpretação, como opera a partir dessa perspectiva? Questões que perpassam o tema desta III Jornada e que nos convidam ao debate…

A Comissão Científica, sob a coordenação de Eliane Baptista e Susane Zanotti, vem há dois meses trabalhando com muito afinco nas questões a partir das quais selecionaram  as referências e construíram o Argumento da Jornada, e todos um caminho epistêmico que temos a percorrer até a novembro. Dessa comissão, além de Susane e Eliane, também participam os colegas José Carlos Lapenda, Lídia Pessoa, Rosa Feitosa, Rosa Reis, Sílvia Farias e Vânia Ferreira, aos quais, ao longo das atividades preparatórias, também irão se juntar outros mais. São eles: Anícia Ewerton, Angela Pinto, Carolina Queiroz, Fernanda Vasconcelos, Januário Marques, José Ronaldo, Marina Cursino, Romero Ouriques, Paulo Carvalho, Teresa Cristina e Vanessa Dias, cujas contribuições prometem ampliar esse trabalho, trazendo pra ele o colorido dos vários terrritórios que compõem a Seção Nordeste.

Mas quero dar notícia também das outras veredas por onde tem se encaminhado o trabalho de preparação da Jornada, que vem sendo conduzido por um grupo muito querido de colaboradores, formado pela dedicação e a contribuição de colegas que vem das várias cidades que compõem a nossa Seção. São elas: na comissão de Mídias, Divulgação e Arte, coordenada por Karynna Nóbrega, participam José Augusto Rocha, José Ronaldo, Marina Fragoso, Pauleska Nóbrega, Tatiana Scheffer e Severino Bernardino: da comissão de Referências Bibliográficas, coordenada por Bibiana Poggi, também participam Cynthia Medeiros, Juliana Castro, Késia Ramos, Roberta Gusmão, Suele Conde e Zaeth Nascimento. Na comissão de Secretaria e finanças que tem Anamaria Vasconcelos como coordenadora, participam Rogério tomaz, Susana Leite e Viviane Lafayete. E da comissão de Acolhimento e Infraestrutura, coordenada por Socorro Soares, participam Ana Paula Mota, Carolina Queiroz e Larissa Souto, todas já a pleno vapor nesse trabalho de preparação da Jornada.

E é por acompanhar de perto a dedicação dessas colegas que posso dizer que estamos, com muito carinho e atenção aos detalhes, “preparando a casa” para recebê-los em Recife, presencialmente ou em transmissão pela plataforma Zoom, para os que queiram acompanhar a Jornada de outras cidades.

Um agradecimento especial a Késia Ramos e a Bruno Senna, ela que pensou o conceito imagético da Jornada e com o seu talento compôs os teaser de divulgação deste lançamento, assim como o cartaz e o vídeo de apresentação da Jornada. Ele, que responde pela diagramação de todas essas peças e vem cuidando com a atenção de sempre, de toda a parte técnica que envolve a imagem da Jornada.

Desde já, peço que fiquem atentos às preparatórias que começam em breve e devem se estender ao longo dos próximos meses. Seguiremos juntos, buscando tecer sobre esse tema algumas respostas para as questões que movimentam a nossa pesquisa e para isso, contamos com vocês.

Para os que ainda não se esquentaram, fica aqui o convite a que se “acheguem” e participem! Cada um em seu estilo, cada um com a sua pegada: todos rumo a nossa III Jornada!

Obrigada.

Cláudia Formiga – coordenadora da III Jornada

[1]J.-A. Miller, Sutilezas Analíticas, p. 89