EDITORIAL
Gustavo Ramos (EBP/AMP)
Jaqueline Coelho (EBP/AMP)
Na Correio Express n. 28 tratamos da temática da regulamentação da psicanálise. Sendo assim, a formação do psicanalista e o ensino da psicanálise são também convocados ao debate. É o que propomos no número 29 da revista, trazendo à tona ainda outros desafios.
A relação entre a psicanálise e a universidade foi sempre palco de descompassos, que, atualmente, ganham novas roupagens. Um dos exemplos disso decorre do fato de que os ideais de fraternidade que imperam no discurso do mestre contemporâneo por vezes tomam a forma de uma reinvindicação de exclusão do pensamento freudiano nas universidades. A partir de vertentes fortemente identitárias, grupos se opõem à presença da psicanálise nas universidades, atribuindo a Freud as pechas de falocêntrico, patriarcal e não decolonial. Tendo isso em vista, como contornar tais desafios à presença da psicanálise nas universidades? Os impasses envolvendo o ensino da psicanálise na universidade poderiam servir a seu próprio avanço?
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O Instituto, a Escola e o lugar do ensino
Luiz Fernando Carrijo da Cunha (AME da EBP/AMP)
Comecemos pela diferença clássica entre Instituto e Escola: esta é caracterizada pelo saber suposto, e aquele, pelo saber exposto, marcando dois domínios na ordem do saber. O fato de o saber ocupar o centro da diferença poderia nos levar ao equívoco de tomar Instituto e Escola como complementares. Lacan não cessou de explorar o que é da ordem do saber, o que é da ordem da verdade e, o mais fundamental, o lugar do real, que não se deixa sobrepor nem pelo saber nem pela verdade. Seu método consiste em colocar à prova as relações entre esses elementos, saber/verdade/real, demonstrando não haver relação de complementariedade ou de sobreposição. De cada uma dessas relações extrai-se um resto.
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A Escola não sem o Instituto
Laureci Nunes (EBP/AMP)
Entre as diversas questões colocadas no argumento para esta Correio, de uma delas me apropriei para intitular este texto, por me ser útil para situar o processo de como a Escola se tornou possível em Santa Catarina. Jovens analisantes, recém-formados, nos juntamos para nos instruir, lendo Freud e Lacan, apreendendo as bases para a atuação clínica, ao mesmo tempo em que seguíamos os passos da Iniciativa Escola. Esse movimento, que incluía formar cartéis, estudar sobre o passe, e cujo fruto, mais de 10 anos depois, possibilitou a fundação da Seção SC, também foi perpassado pela grande crise de 1998 na AMP.
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O que aprendi com meu passe
Tânia Abreu (EBP/AMP)
Segundo Miller, um dia alguém se aproximou de Lacan e, tentando agradá-lo, disse-lhe que ele era um psicanalista nato. Lacan declinou da homenagem. Se houvesse psicanalistas natos, não teríamos que formá-los, bastaria descobri-los. Considero que essa ideia atende aos propósitos da constatação de que não há analista nato. Deste modo, sua formação é necessária, requer tempo e exige uma experiência com o inconsciente. A fonte que dá sustentação a tal objetivo é minha experiência analítica e o que dela pude abstrair em termos epistêmicos para minha formação, assim como o que busco transmitir, colaborando para a formação de outros.
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Ensinar a partir da psicanálise
Angélica Bastos (EBP/AMP)
O discurso do psicanalista tem por determinante a prática da uma psicanálise, explicita J. Lacan. O termo prática não é empregado de maneira fortuita e não equivale ao termo práxis, também utilizado por Lacan em algumas ocasiões, quando sustenta ser a psicanálise uma práxis, fundamentando toda possível teorização na própria ação analítica.
Tal ação é transformadora e, por sua vez, leva à constituição, por um lado, do desejo e, por outro, de conceitos, repercutindo nas representações e na ação subsequente. Coloca-se assim a dupla exigência que recai sobre o psicanalista: ser dois, um que produz efeitos e outro que teoriza esses mesmos efeitos.