EDITORIAL
Por Cleyton Andrade
O processo civilizatório é um exercício diário. É necessário muito trabalho para que encontremos outros destinos para a pulsão de morte. Reunimos aqui três de nossos colegas para tecerem com palavras, parte do silêncio que ocupou nossos corações naquele dia de Blumenau. Oscar Reymondo, Ondina Machado e Gustavo Ramos trazem cotas desse trabalho diário de nos mantermos civilizados apesar da barbarie.
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5 A
Oscar Reymundo (EBP/AMP)
Este trabalho é fruto do esforço por colocar algumas palavras, as primeiras que consegui articular, ao ato violento acontecido numa creche da cidade de Blumenau, Santa Catarina, em 5 de abril de 2023. Agradeço a Cleyton de Andrade por ter me convidado a fazer este esforço.
Diz Miller no seu curso “Todo el mundo es loco”, que temos que saber correr e também temos que saber fazer uma pausa, e acrescenta que não temos de nos deixar levar quando tudo vai muito rápido. Tomo estas ideias como uma oportuna orientação para tentar situar-me, e não extraviar-me em interpretações imaginárias e precipitadas, na velocidade com que uma série de acontecimentos violentos está se manifestando no espaço de algumas escolas de diferentes cidades do Brasil. Desta vez, à série de ataques a alunos e professores se soma uma creche da cidade de Blumenau, em Santa Catarina, onde quatro crianças entre 4 e 7 anos foram assassinadas, e outras cinco ficaram feridas, com golpes de machado por um sujeito que, sem vínculo aparente com a creche, após o ato de crueldade que cometeu, se apresentou, a seguir, num batalhão da Polícia Militar das imediações.
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“Falhamos miseravelmente”
Ondina Machado – EBP-AMP
O país ficou perplexo diante do ataque a crianças na creche em Blumenau. O que nos chocou tanto?
A violência contra crianças tira toda a razoabilidade na qual nos fiamos para viver. São vulneráveis e nada fizeram que criasse uma relação de causa e efeito. Essa falta de nexo nos apavora, mas esquecemos, por exemplo, que crianças são cotidianamente expostas à violência, mesmo dentro de casa. O Ministério dos Direitos Humanos divulgou que 81% dos casos de violência contra crianças ocorrem no lugar no qual supomos que estariam protegidas: em casa.
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“É o fim do mundo”
Gustavo Ramos da Silva (EBP/AMP)
Era uma quarta-feira aparentemente tranquila para mim. Na parte da tarde iria realizar o dispositivo da conversação em uma escola da Rede Municipal de Florianópolis. O Laboratório Encontro de Saberes, do qual sou responsável desde 2019, tem sua interdisciplinaridade com a educação; desse modo, os integrantes do Laboratório, após a demanda dirigida a nós, deslocam-se até a escola e realizam presencialmente uma conversação sobre o que os alunos e professores desejam falar. Quando estava almoçando com minha amiga, recebo um telefonema da orientadora educacional me comunicando a tragédia em Blumenau…