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    EDITORIAL

    Por Cleyton Andrade

    O incêndio marcado para o 07 de Setembro de 2021, não passou de labaredas esparsas. Mas as chamas de onde elas partiram continuam queimando não só árvores, florestas, direitos, economia, saúde, democracia. Elas queimam carne, palavras e memórias. O corpo do indígena, do negro, do subalterno, que este regime de gozo ainda insiste em medir por arrobas. O incêndio não passou. Ele ainda se faz presente na fumaça do projétil de arma de fogo, expelida pelo zero dois em um clube de tiros com inúmeras insígnias nazistas, nome de cão em homenagem a tanque de guerra alemão, com a exposição obscena de um lema codificado com o número 1488, onde, no “88” se lê, via homofonia, a saudação “HH” que me recuso a reproduzir.

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    País, não vês que estou queimando? – o incêndio de uma cinemateca

    Por Cristiane Barreto – Rede FAPOL de Cinema e Psicanálise – EBP

    Os destroços não foram corpos despedaçados, nem fragmento corporal, “sob o fogo da sublime violência” (Didi-Huberman, G., 1998, p.174) restou em cinzas ou material deteriorado – massa de ausências-, a história do cinema brasileiro.
    Em julho de 2021 um incêndio de grande proporção atingiu um dos galpões da Cinemateca Brasileira, criada em 1940, por um grupo de intelectuais paulistas, que haviam fundado o Clube de Cinema de São Paulo.

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    Ícone da terra arrasada, só o Diabo na Terra do Sol

    Por Jeronimo Soffer – Diretor de Fotografia

    A Cinemateca queimando ilustra muito bem a desolação que vive a cultura, em particular a indústria cultural no país. Não é um processo novo! Já beira seus cinco anos e também já aconteceu antes: tanto a cinemateca já se incendiou antes (cinco vezes, começando em 1957), como o país já viu sua produção cultural destroçada também. É bem verdade que o cinema sempre teve uma relação e tanto com o fogo. Afinal, todo filme fotográfico era, até 1951, feito de celuloide, o primeiro plástico sintético e um parente próximo da nitroglicerina e da dinamite, que queima até debaixo d’água.

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    Invento

    Por Cínthia Busato – Membro da EBP-AMP

    Tanto os incêndios nas florestas quanto nos museus causam-me uma dor insuportável. Num primeiro impulso, fecho os olhos para proteger-me um pouco. Nem assim, é um arder dentro.  Dizer isso, pode até ser uma blasfêmia, mas nem a pandemia com seus horrores sociais, políticos e mortíferos  causa-me este tipo de dor. Também é dor, ver a dor de cada um causar nenhum constrangimento nas hordas governamentais; dói, e não é pouco. Perdi agora um cão, que viveu conosco 18 anos, doeu, dói, doerá ainda, sei bem. Mas a dor das imagens das chamas devorando o verde, com toda a diversidade de vida que ali existe, e das chamas ardendo objetos, livros, filmes que testemunham e contam a nossa história, a história de tantas vidas, contém um elemento que me é intolerável.

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    Depoimento de Cauã Reymond

    Ator e Produtor

    Eu lembro das imagens do fogo na Cinemateca… no primeiro momento veio a sensação de tristeza somada ao descaso que a gente tá tendo com isso, não só com a cultura, mas com muitos setores no nosso país. Como ator, produtor, e como espectador –  que eu acho que é até, inclusive, um lugar super importante né? –  afinal, eu penso também como uma pessoa que assiste os filmes. Sou fã do nosso audiovisual e torço, estimulo e trabalho para que o nosso audiovisual sempre cresça e que possa evoluir, que possa melhorar.

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