Edição Especial
EDITORIAL
Por Cleyton Andrade
Temos em mãos um número extra da Correio Express dedicado à Lêda Guimarães. Nele poderemos encontrar algumas palavras da própria Lêda, ambas de seu livro Uma mulher e um homem – depois da análise, publicado em 2016, bem como as mensagens de duas amigas.
Mãos Sthend’idas…
“O apaixonamento tinha para mim um valor essencial, imprescindível, necessário, já que era a via fundamental que me oferecia alguma consistência do “ser” de mulher. Os desenlaces amorosos me faziam refém da lembrança do último amor. Cultivava a recordação contínua do amor perdido, em relação ao qual meu “ser” de mulher se mantinha consistente, porém pela via da identificação ao objeto dejeto, objeto excluído, porém objeto sólido e consistente na permanência da dor. Assim, o vazio da estrutura se mantinha ocupado, tamponado, com dois estados de gozo que forneciam uma consistência de “ser” mulher: êxtase e devastação. A frase de Sthendal adquire pleno sentido neste modo de amor neurótico fixado entre o êxtase e a devastação: “O amor é uma flor delicada, mas é preciso ter coragem para ir colhê-lo à beira do precipício” (Guimarães, 2016, p.37-38).
“Buraco estrutural aberto, desde o qual estendo a mão em direção ao amor, ainda que quase silenciosamente…” (Guimarães, 2016, p.40).
Guimarães, Lêda – Sallamone, Luis Darío Salamone. Una mujer y un hombre después del análisis. Olivos: Grama Ediciones, 2016.
Mensagem de Nora Gonçalves:
Lêda,
Você tinha muito para viver, principalmente porque dava muito de si para as pessoas e com muita generosidade.
Mas um ser vivente é mortal, e não se escolhe o dia da morte, não é mesmo? Nós, na EBP, a perdemos, mas não esqueceremos sua alegria, leveza e seu modo ético na Escola.
É unanimidade entre os colegas lembrar dessa sua alegria de vida. Sempre uma palavra positiva, um acreditar nas pessoas e na vida. Nunca perdia seu precioso tempo falando de pessoas, valorizava as ideias. Demonstrava o valor que dava ao tempo e à vida.
Recebeu muitos jovens que chegaram para a Seção Bahia, sempre com um acolhimento que lhe era peculiar, autêntico, deixando marcas de sua vibração com a psicanálise.
A psicanálise lhe causava. Recordo uma passagem de seu livro Gozos da mulher, onde você retomou Laurent para falar de novos pontos de amarração de gozo mais vivificantes para o sujeito, mas que para isso o desejo do analista tem que se manter férreo. Assim concebia você uma análise e assim o fez, até o fim. Atendeu os pacientes até onde pôde, já adoecida e frágil, mas com um desejo férreo, exercendo sua função.
Como AE mostrou que a psicanálise lhe devolveu seu traço, de liberdade, e você soube fazer dele uma autoria, de vida e de escrita, fazendo uso dessa liberdade de escolhas.
Seus escritos alçaram voo, porque havia neles uma pesquisa genuína, autêntica, de quem teoriza aquilo pelo que é atravessado na própria análise e na clínica psicanalítica, transmitindo desse modo singular a psicanálise.
Você fará falta à EBP! Com a nossa admiração, Nora.
Mensagem de Maria Silvia Garcia Fernandez Hanna
Por Maria Silvia Garcia Fernandez Hanna – Conselheira da EBP-Seção Rio de Janeiro
Homenagem a Lêda Guimarães
No dia 23 de maio Lêda Guimarães faleceu em Feira de Santana, Bahia.
Nós, os colegas da EBP/ AMP, estamos consternados e enlutados com sua partida. Muitos de nós acompanhamos seus últimos anos de vida, durante os quais ela estabeleceu uma luta contra um câncer que avançou até levá-la de nosso convívio para sempre.
Leda Guimarães foi uma mulher que gostava de cores, especialmente do vermelho, seu sotaque baiano era inconfundível, tinha um carisma extraordinário que encantava a muitos, sendo muito acolhedora com todos aqueles que se aproximavam dela.
O traço de seu encontro com a psicanálise permaneceu vivo até o fim e permitiu que ela ocupasse durante sua vida a função de psicanalista, e transmitisse a psicanálise na Escola e no mundo.
Seu amor confessado pela Escola de Lacan se traduziu em ato, se apresentando no Dispositivo do Passe e sendo nomeada AE. da EBP/AMP no ano 2000. Seus testemunhos apresentaram seu estilo forte, vibrante e desejante que a acompanhou em todos os lugares por onde andou.
Foi uma colega participativa, amiga e sobretudo sempre disposta a dizer de sua relação com a psicanálise.
Teve uma atividade intensa na EBP-Seção Rio nos últimos anos em que residiu na cidade do Rio de Janeiro. Ocupou a função de Diretora de Biblioteca, realizou seminários, ministrou cursos, conferências, e escreveu inúmeros textos, que estão publicados nas revistas da Escola, e em seus dois livros, um de sua autoria, intitulado: Gozo da mulher: da devastação à vivificação, e outro em co-autoria com Luiz Darío Salamone: Uma mulher e um homem- depois da análise.
Lêda escolheu em um texto publicado nos Arquivos da Biblioteca 9 da EBP-Rio uma frase de Sthendal, para exprimir algo se sua relação com a Escola que diz: -“o amor é uma flor delicada mas é preciso coragem para ir colhê-la à beira do precipício”-.
Assim foi seu desejo que veio a sustentar o laço analítico no mundo.
Obrigada Lêda por ter-nos oferecido isso!!!!!
Até sempre!