Por Andréa Vilanova – Diretora de Biblioteca EBP-Seção Rio de Janeiro
Com o XXIII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano – “O feminino infamiliar, dizer o indizível” no horizonte, nossa comunidade está às voltas, em nova volta, diria, com o texto de Freud “Das Unheimliche” (1919). Trata-se de um ensaio que encontra na tradução proposta por Ernani Chaves, Rogério Freitas e Pedro Heliodoro Tavares – coleção “Obras Incompletas de Freud” (Grupo Autêntica), com Gilson Ianini como editor –, uma nova chave que põe em relevo todo o trabalho realizado por Freud em sua leitura do termo dentro da própria língua alemã e entre outras línguas. É o próprio Freud que, ao revirar referências recompondo a rede semântica que habita Das Unheimliche, franqueia o acesso ao que de estranheza habita a própria língua que se fala. Assim, a proposta de “Infamiliar” não é apenas uma tradução a mais. O trabalho de tradução de Freud encontra na tradução para o português, na referida edição, uma palavra que é a própria marca da impossibilidade da tradução, como testemunham os textos que acompanham a referida edição.
Se com Lacan podemos destacar que a questão da tradução transpõe as passagens entre uma língua e outra, ocupando um lugar central na relação de cada falante com alíngua, trata-se de incluir o que do choque entre as palavras e o corpo resta como inabsorvível pelo significante. Em uma volta a mais, entendemos que as questões em torno da tradução e das línguas são atravessadas por dimensões que também coletivizam o estranho, pela perspectiva do estrangeiro. O ilegível, o incompreensível, o impossível de traduzir ressoa, portanto, de muitos modos, em várias dimensões. É o que pretendemos trabalhar em nossas Jornadas na EBP – Seção Rio de Janeiro, neste ano, a partir do tema “Exílios”.
Apostamos em promover conversas que possam fazer circular saberes, dizeres e algo mais. Diante do uso da língua que nos singulariza e faz vigorar o impossível da relação, somos convocados a construir artifícios para tentar bem-dizer o que não cabe no dizer, mas pode ser extraído dos ditos.
Realizaremos alguns eventos, dentre eles: “Experimentum Linguae – A Experiência da Língua – uma conversa entre Agamben e Lacan”. Com a presença de Marcus André Vieira e Romildo do Rêgo Barros que recebem nosso convidado Cláudio Oliveira, professor do Departamento de Filosofia da UFF, responsável pela tradução da conferência de Giorgio Agamben realizada no colóquio “Lacan avec les philosophes”, organizado pelo Collège International de Philosophie de Paris em 1990, para a qual deu o título “Experimentum Linguae – L’expérience de la langue”. O encontro ocorrerá em maio próximo.