Sentindo frio em minha alma
Te convidei para dançar
A tua voz me acalmava
(Elis Regina)– O que do encontro se escreve?
– Não sei… São dois prá lá, dois prá cá?
– Mas, por que me convida?
– … não sei… acho que aceitei seu convite para dançar…
Pierre Naveau, se valendo do encontro com o discurso, com o som e com a leitura de Lacan, nos chama a atenção para os caminhos e descaminhos de Aragon, com suas versões antagônicas do amor a partir do feminino. Seja pela via de uma feminilidade exuberante e luxuriosa de um grande bordel em meio a uma imensa orgia, seja pelo polo oposto de um amor sublimado, nos indica caminhos para formularmos inúmeras perguntas. Na luxúria do bordel ou no amor cortês não se escapa impune do impossível.
Entre encontros e desencontros, em meio à inexistência de um onanismo cortês, os atropelos do que se pode fazer com o gozo, com o desejo e com o amor. Numa incrível potência de atualidade, o texto de Naveau nos convida a pensar, com toda a provocação que um pensamento pensado junto, e apesar de, toda a perturbação do corpo, pode dispor. Seja num metrô, nas ruas, nas favelas, nos palanques e construções, na clínica ou na política, o onanista desconsidera a sedução. Talvez o desencontro não mais ruborize, embora a questão, talvez, seja mais a de como é possível conceber um encontro que não invalide, ou apague, que a relação sexual não existe. Estas são possíveis marcas, rastros no corpo, testemunhas de um encontro não antagonista do impossível da relação sexual, que os colegas Antônio Teixeira e Cristiano Alves Pimenta nos convidam a ler no livro de Naveau.
Por fim, Fernanda Otoni nos conta um pouco das cores, das notas de partitura, da coreografia de um encontro com vistas e escalas musicais, para acontecer en corps nas Jornadas de Minas. Esse encontro, não houve…mas se fez ouvir. Àquela altura as cordas já haviam vibrado, ressoado pelo cavalete, tocado o tampo e arrebatado a alma. Pronto! Som, notas de partituras que se lêem, música que se dança dois pra lá ou um pra cá. A essa altura já temos o livro para nos lembrar e colocar à trabalho acerca d’O que do encontro se escreve.