Por Cínthia Busato
Membro EBP/AMP
Temos, na Seção Santa Catarina, uma atividade chamada A psicanálise vai ao cinema realizada em parceria com o Centro Cultural Badesc há mais de dez anos. É uma atividade aberta onde, depois da exibição de um filme, acontece uma conversa com um público composto predominantemente por não-psicanalistas, bem heterogêneo. São dois convidados: um psicanalista da EBP e outro ligado a um campo de saber que possa trazer elementos interessantes para o debate. Os filmes são sempre escolhidos em torno dos eventos da Escola. Por exemplo, durante todo o ano passado trabalhamos com o sonho e este ano estamos orientados pelo conceito de infamiliar. O último encontro, que aconteceu no dia 29 de junho, foi o primeiro on-line. Isso possibilitou a participação de pessoas do interior do Estado de Santa Catarina e também do Paraná, efetivando cada vez mais o trabalho da nova Seção Sul. No dia 31 de julho, teremos uma debatedora do Paraná ligada à EBP.
O filme trabalhado em junho foi O Sacrifício, de Andrei Tarkovsky, escolhido pelas questões que tocam estes tempos pandêmicos. Frente a uma catástrofe global, o que fazer? Como tratar a angústia e inventar lugares possíveis para continuar vivendo? Nesse cenário, onde a humanidade está à beira da autodestruição, um ato grandiloquente, trágico e sacrificial de desespero e amor por um filho, consegue barrar a hecatombe. Ou, talvez, o ato não tenha nada a ver com o fim da guerra, tenha sido uma mera coincidência mas, para o protagonista, foi o seu sacrifício o responsável por salvar a humanidade.
Contudo, é um ato singelo – um pequeno sacrifício cotidiano de levar água para regar uma árvore seca que, no início do filme, o pai planta enquanto transmite ao filho a ideia de continuar regando todos os dias até que ela floresça – que traz alguma esperança. Esse ato perpassa o filme do início ao fim. Os divinos detalhes fazem a diferença e a aposta nesse ato improvável lembrou-me a citação de Miller: “se o amor é um deus, é um deus ligado ao acaso” (1).
Temos também uma outra atividade, O cinema vai à psicanálise, que acontece na sede da Seção (agora pelo Zoom) onde usamos filmes não para fazer esse laço com a cidade e provocar interlocuções e intercâmbios com outros saberes. Aqui, o filme é ferramenta para nos ajudar a aprofundar epistemicamente algum conceito da psicanálise. No dia 4 de setembro, trabalharemos as relações entre a angústia, o infamiliar e o feminino, apostando nas imagens fílmicas para dar alguma visibilidade ao impossível de dizer. (2)