Por Bibiana Poggi
Uma pandemia ameaça a vida.
Um vírus, um inimigo invisível, introduziu-se entre todos e exigiu medidas rápidas e urgentes dos líderes mundiais e de cada um da população.
O que é possível dizer sobre isso?
Distintos saberes buscam explicações, recomendações, soluções.
Para a psicanálise, trata-se do real sem lei, que foge a qualquer ordenamento, age por si só. Desordenado, surpreende e faz vacilar os semblantes. Entretanto, é preciso contar com ele, adverte Briole[1].
Contar com o real é conceber que há um real para cada um, que também é tocado no momento atual. Isto implica tocar no mais íntimo do falasser, naquilo que por mais estranho que pareça, retorna como familiar.
Neste sentido, cito Briole[2]: “Se a onda do real sem lei parece dar sua força à maré montante do desaprumo do sujeito, é como ponto de basta, ancoragem dessa deriva, que a psicanálise pode inscrever seu futuro”.
Um breve relato
Era o final de uma estada na Espanha. Em Granada, admirando mais uma vez um monumento, uma mensagem de whatsapp faz o celular vibrar, rompendo a beleza da imagem. “Você já foi informada de que o ginásio fechou”? – indagava uma amiga. Complementou: “mantemos nosso café na próxima segunda”.
A partir daí uma desenfreada corrida se estabeleceu. As autoridades apresentaram as medidas necessárias para tentar conter a pandemia.
Uma urgência: é necessário sair do país e retornar a casa antes que algumas medidas entrem em vigor – corre-se.
Mas há que se passar pelo aeroporto de Madrid – estado de alarma.
No aeroporto, pessoas caminhavam de um lado para o outro cobertas por vestimentas, máscaras, luvas, capas – isolamento.
Não havia onde sentar, de que se alimentar, o que comprar – caos.
Os olhares, quando se cruzavam, eram de medo e avisavam: mantenha distância.
A imagem do monumento permanece, às vezes acompanhada de uma estranheza. O café não aconteceu. Ficou para depois.