Por Nohemí Brown – Diretora de Cartéis e Intercâmbio da EBP
Em tempos incertos, o trabalho persevera…
Acabamos de receber a notícia de que teremos que esperar um pouco mais para nos encontrarmos no XII Congresso da Associação Mundial de Psicanálise. Porém, o trabalho se mantém, às vezes de formas inéditas, e para destacar o que nos orienta temos na rubrica Porvir o texto A absoluta diferença do sonho de Angelina Harari, presidente da AMP. Nele Angelina esclarece, entre outras coisas, o valor do desejo do despertar, mas sem perder de vista a importância do sonho como guardião do desejo de dormir. Por que nos interessa esta temática? No texto, esse ponto fica circunscrito em uma pergunta que nos interroga e desafia no dia a dia da nossa prática: “O que guia nossa prática em relação aos sonhos nos tratamentos que dirigimos?” Pergunta que precisará um pouco mais de tempo para ser respondida em nosso Congresso, mas que será fundamental manter como uma questão que vibra com relação ao nosso fazer analítico.
Também no Porvir, mas, desta vez, para o XXIII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, Marcela Antelo, da Comissão científica, em um rico percurso, destaca o termo infamiliar presente no título do evento. Marcela ressalta o que nos interessa dele, não como tema, mas como acontecimento da sensibilidade, isto é, como certo “infantil inextinguível” que “Freud soube reconhecer na própria experiência do corpo rebelde ao simbólico que passamos a chamar de gozo feminino”.
Tomando como referência a proposta de pesquisa à que nos convoca o XXIII EBCF, Patrícia Badari, Diretora de Biblioteca da EBP, faz uma interessante proposta que visa orientar o trabalho das Bibliotecas, segundo as particularidades de cada lugar, em torno de: o infamiliar, o intraduzível e a dimensão ilimitada do gozo feminino. Neste número, contamos com as contribuições de Andréa Vilanova, Yolanda Vilela e Bibiana Poggi que nos expõem suas propostas de trabalho nesta direção. Cabe destacar que algumas das comissões de Biblioteca estão trabalhando em cartel. Um trabalho de Escola em todo seu esplendor!
Por outro lado, Laura Rubião nos coloca de uma maneira muito bela e precisa a importância dos Momentos de Inter-câmbio acontecidos na EBP-MG. Ela extrai a relevância desses momentos para a Escola, especialmente nos tempos atuais: neste tempo “em que as certezas veiculadas pelo Discurso da Ciência se tornam mercadorias e operam, muitas das vezes, como sedativos ou anestésicos”, Lacan na Academia é uma forma de “manter viva a aposta na via de um esforço de poesia para cernir a ponta de real que tanto perturba quanto anima a existência de todo falasser”.
Na Dobradiça de Cartéis, Sônia Vicente destaca o ensino como o produto de um saber fazer com o impossível e, nesta direção, o cartel torna-se um dispositivo privilegiado. A partir deste esclarecimento, na EBP-BA foi possível fazer diferentes usos do cartel dos quais Sônia faz uma leitura e recolhe seus efeitos na própria Seção, além de situar a aposta na surpresa enquanto uma “Escola que não é o que ela sabe, mas o que ela sabe que não sabe”.
Boa leitura e vamos ver o que estes tempos nos permitem aprender e inventar!