Ir além do ódio e da indignação pela via da ternura foi a proposta da manhã de conversação organizada pela diretoria de cartéis e intercâmbio da EBP-SP no último dia 10 de agosto em Ribeirão Preto-SP, na capela excomungada, hoje Espaço Cultural Capela da Universidade de São Paulo.
A excomunhão de Lacan [1] ao anunciar a pluralização dos Nomes-do-Pai marcou presença nesse encontro realizado em uma capela excomungada por abrigar outros Nomes-do-Pai que não aquele reconhecido pela “verdadeira religião”.
O diálogo foi provocado por Henri Kaufmanner a partir da apresentação dos textos elaborados pela enfermeira da Estratégia de Saúde da Família (ESF), Rafaela Azenha Teixeira de Oliveira, e da terapeuta ocupacional, coordenadora do Centro POP, Larissa Soares de Melo, que tinham em comum, a violência como resultado do encontro dos operadores da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), e dos sujeitos atendidos nesses dispositivos, com a impossibilidade de atendimento das demandas pela rede.
Lacan no seminário X descreve o momento de irrupção da cólera como “quando os pininhos não encaixam nos buraquinhos” [2]. A abordagem dos casos clínicos relatados nos trabalhos trazia os impasses diante da questão do que fazer quando o furo da rede não pode ser preenchido, a demanda do usuário não pode ser atendida e a resposta é a violência.
Henri Kauffmanner caracterizou o encontro da EBP com a RAPS como um esforço para fazer surgir a singularidade. Propôs a “prática do descontrole” como estratégia para tornar a RAPS permeável à contingência e assim esquivar-se do imperativo da biopolítica: “Funciona!”. Dessa forma, a aposta na conversação constante entre os operadores da rede, a construção das redes singulares para cada caso, devem partir de uma concepção de rede furada, para que nesses furos o sujeito possa se inventar. Os trabalhos provocaram um efeito de conversação que pôde ser verificado seja na intensa e diversificada participação da plenária composta principalmente de operadores da RAPS, seja na reafirmação da aposta na fala e seus efeitos de dizer para fazer surgir um saber fazer com os furos.
Para concluir, acompanho Henri Kauffmanner no destaque do significante ‘cortesia’ que emergiu do testemunho de um dos participantes sobre como vem inventando seu saber fazer nos furos da RAPS, para indicá-lo como um dos nomes que agora ressoam, como estratégia para viabilizar o diálogo entre os diversos atores dos dispositivos da rede, nesse tempo de fortalecimento dos discursos de ódio