Como sabemos, Lacan funda uma Escola e junto com ela o cartel. Essa Escola é uma forma diferente de se haver com o grupo analítico, diferente da de Freud. É uma forma que inaugura uma maneira de se haver com os analistas, com os não analistas, com o ensino e a transmissão da psicanálise.
O trabalho em cartel, nesses pequenos grupos, com um limite de tempo, com a exigência de uma produção singular de cada um de seus participantes e com o compromisso de expor suas produções, assim como suas crises, faz dele um dispositivo privilegiado nestes tempos que correm. Se, às vezes, o cartel dá a impressão de ser um grupo muito contemporâneo, sem líder, sem hierarquias, também sabemos que não é da ordem do “todos iguais”. É na função do Mais-um onde se sustenta o modo de trabalho desse grupo.
Se a palavra cartel, como nos indica Lacan, vem da palavra “Cardo”, dobradiça, este dispositivo tem uma relação de dobradiça com a questão mais singular que move a cada um que participa dele e que o enlaça ao coletivo. Porém, para que funcione como dobradiça, é necessário que a função do Mais-um sustente a diferença, a alteridade e possibilite a elaboração singular do que é causa para cada cartelizante. A função do Mais-um, não com um Um que unifica, senão com Um que mantém a diferença, a dimensão irredutível da solidão com a própria causa, mas que abre a possibilidade de enlaçamento com o Outro com quem se possa manter uma interlocução. Em outras palavras: que possibilita formas de fazer Escola. Neste sentido, o cartel torna-se uma ferramenta para inventar, da boa maneira, modos de fazer Escola (e de manter a orientação lacaniana) considerando as particularidades de cada lugar.
Neste ponto destaco algumas perguntas: Que lugar tem o cartel na EBP neste momento? Como seus usos podem nos orientar neste tempo da nova geografia? Como pode ser uma ferramenta para tratar os impasses que se apresentam em determinados momentos nas Seções?
São perguntas que me faço ao assumir a Diretoria de Cartéis e Intercâmbio, mas que gostaria de manter abertas no sentido mais autêntico do termo: pulsando. E que, junto com os Diretores de Cartéis e Intercâmbio das Seções (e os cartelizantes), possamos ir elaborando respostas ao longo deste tempo de trabalho, não precisamente acabadas, mas que nos permitam ir circunscrevendo o que está em jogo em determinados momentos.
Esta rubrica da Correio Express visa um espaço para manter essa conversa aberta e recolher as questões, as pontuações, as reflexões e os produtos deste dispositivo nas diferentes Seções da EBP. Por isso, mais do que um espaço fechado de trabalhos já acabados, esperamos que tragam o vivo que os impasses e as questões que realmente pulsam fazem presente.