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Conversação e comunidade analítica
Por Flávia Cêra
 

A conversação seria um meio de fazer existir uma comunidade? E que comunidade é essa? Em torno do “jogo das paixões” nos reunimos no Congresso de Membros em São Paulo para trabalhar neste formato que, embora tivesse um centro, a mesa, tinha também outros lugares: os textos que circularam previamente entre nós como ponto de partida para a conversa e a lida com as paixões de cada um.

O que se pretende com uma conversação não é o consenso. Ela está mais perto de poder sustentar a dissonância nos pontos de abertura a outros sentidos. Isso, porém, não é feito por um mestre, mas pelo próprio efeito de circulação da palavra que implica um corpo que sustente uma enunciação que se produz solitariamente e reverbera coletivamente. O que não significa estar imerso no plano da opinião, mas sim, da leitura. Neste sentido, o que circula não é uma fala relacionada apenas à vivência, mas uma fala que tem como eixo uma experiência de leitura de quem escuta e fala de um lugar que é só seu, mas que, em um dado momento, pode ser compartilhada. O saber que se produz aí é contingente e incompleto, depende do fio da trama que se segue, e é reenviado à solidão de cada um.

Não é sempre que uma conversação acontece. Talvez porque as condições para o seu acontecimento não sejam de uma ordem determinada. Será necessária uma invenção, a cada lance, para colocar em ato a palavra sobre a causa que nos reúne sem prescindir da solidão que nos acompanha. Mas quando ela acontece, como pudemos presenciar, a Escola vivifica-se como uma comunidade de experiência, efeito de um esforço de poesia que ressoa. 

   
 
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