No cartel do qual participo como Mais-um, tivemos tanto encontros físicos (durante Congressos ou Encontros) como virtuais. É difícil avaliar os efeitos da ferramenta tecnológica no trabalho do cartel. Cada cartel tem (ou não) sua própria vida e o resultado, em termos de produção escrita, é diverso. Em minha experiência, essa produção depende fundamentalmente de dois fatores: o desejo de cada um de seus integrantes e a contingência do encontro. Nessa perspectiva, considero secundário que a presença seja real ou virtual, particularmente nos encontros com o Mais-um.

O encontro real dá corpo, coesão, é um acontecimento libidinal que certamente não ocorre no encontro virtual. No entanto, considero que a função do Mais-um, como função de causa do desejo, pode transmitir-se mesmo no apagamento da presença real, encarnando antes, como situava Lacan em “Alocução sobre as psicoses da criança"¹, uma função matemática, que implica o apagamento da presença.

Considero também que cabe situar uma diferença entre a presença tal como opera no ato analítico, regido pelo discurso analítico, e a presença do Mais-um no cartel, que joga em um movimento entre diferentes discursos que colocam em ato a transferência de trabalho. Esta pode ter como suporte tanto a escrita (como tem acontecido ao longo da história da humanidade até tempos recentes, levando a produções importantes – tanto no campo das ciências duras, como no das ciências conjecturais –, resultado da troca de cartas entre pensadores de diferentes disciplinas), como a conversação virtual, já que o objeto do encontro é uma produção de saber. Isso marca uma diferença radical em relação ao que ocorre com a presença do analista no ato analítico, no qual a transferência em questão é fundamentalmente uma transferência de gozo que não pode, portanto, prescindir do suporte corporal.

Tradução: Rodrigo Lyra