III Noite da Biblioteca da EBP-Rio em 17 de agosto de 2018
O nome da loucura que habita cada falasser não cabe na extensa teoria, como demonstra Maria Silvia Hanna com sua investigação incansável a atravessar referências freudianas, de Lacan, de J-A Miller e ainda de outros clínicos clássicos, como por exemplo Ferenczi, Abraham e Clérambault, dentre outros, toma a questão da transferência e especialmente a dificuldade de seu manejo com pacientes psicóticos.
Apoiada em hipóteses que a ajudam a se lançar no inesperado, na contingência do encontro à qual a clínica nos intima, Maria Silvia nos ensina sobre o que se escreve entre o suportar e o quase não suportar como no caso de George, do qual ela dá testemunho nesta Noite da Biblioteca coordenada por Elisa Monteiro, tendo Stella Jimenez e Ana Beatriz Freire como convidadas para a leitura e discussão de seu livro lançado pelo Subversos este ano.
A autora de “A transferência no campo da psicose” nos oferece uma torção fundamental ao extrair-se na enunciação de sua prática. A partir daquilo que um dia foi material de elaboração de sua tese de doutorado, nos presenteia com a argúcia e a fineza de sua escrita teoricamente densa e clinicamente apurada. Nas palavras de Elisa destaca-se o que Maria Silvia “pode ensinar, responder e não responder” a partir de sua pergunta sobre a parceria do analista com o delírio.
Maria Silvia surpreende-se com o retorno ao seu próprio escrito como o encontro com algo novo. Destaca que “escrever e poder esquecer” permite esta surpresa. Retomando o caso que foi o motor de sua pesquisa de doutorado, realinha referências e escanções num tratamento cujos ensinamentos vigoram, convidando a novas escritas. A partir de seu reencontro com o texto, que já ganhou autonomia, o lançamento do livro instiga a leitura e a verificação daquilo de que a autora se serve para situar na dimensão do “estrangeiro”, que participa do enlace entre analista e analisante, uma verdadeira escrita da clínica sob transferência.
Stella destaca as manobras de Maria Silvia que vão desde arranjos teórico-conceituais aos gestos que pontuam a vivacidade da clínica. Tensiona os elementos, logifica sua leitura desse caso e recorta o que se apresenta na escrita do caso a partir da perspectiva da suplência, interrogando seus pontos de sustentação.
Ana Beatriz deixa as marcas de sua leitura sublinhando ancoragens do texto sustentada nas ancoragens do caso. Do “curso de um rio” às “estações”, metáforas de um fluxo, pulsação entre teoria e clínica, vemos o que se deposita como caso enquadrando analista e analisante.
Para finalizar vale retomar “Uma fantasia”, de Miller, em que se destaca uma inversão de peso quanto ao que opera no estabelecimento do motor do tratamento, no final do ensino de Lacan. Tanto em Miller quanto em Maria Sílvia, entre amor e saber trata-se de situar o pivô do lado do amor. Como afirma Miller, a transferência é pivô, porque “é o amor que pode fazer mediação entre os uns-sozinhos”. É o que Maria Sílvia nos oferece com sua escrita da clínica da psicose sob transferência, com a atualidade e o vigor de sua transmissão.
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