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Serge Cottet e o desejo do psicanalista
Elisa Alvarenga

 
   

Encontrei Serge Cottet pela primeira vez quando, em 1984, recém saída da Residência de Psiquiatria, fiz minha primeira supervisão com Antônio Beneti. Saí de seu consultório munida desta ferramenta fundamental que foi para mim Freud e o desejo do psicanalista. De fato, eu estava em busca de uma bússola para a minha prática e a encontrei no Campo Freudiano, o que me levou a Paris três anos depois. Foi um encontro com a ética da psicanálise antes de encontrar Serge Cottet, como professor, 31 rue de Navarin, nos Seminários de DEA da Paris VIII.

Embora eu não fosse sua orientanda, ele me acolheu de bom grado em seu Seminário semanal, durante os quatro anos de Doutorado em Paris. Junto com Jacques-Alain Miller, Éric Laurent e François Regnault, ele fez parte, semanalmente, dos meus encontros com a leitura de Freud e de Lacan. E soube me transmitir, com seu humor bem particular, um amor à psicanálise e uma ética sem concessões. Apresentei, em seu Seminário, um trabalho sobre Las meninas de Velásquez, onde aprendi a separar a leitura de Lacan daquela de outros, psicanalista ou filósofo.

Serge Cottet permaneceu, ao longo dos anos, um guia para mim, seja por seus textos, sempre orientadores para a clínica, seja por uma apresentação de pacientes, inesquecível: ao entrevistar uma mulher delirante, que se dizia responsável por altas funções em um Ministério na França, ele a comoveu e a fez cair em pranto, desinflando naquele momento seu eu paranoico ao dizer-lhe, gentilmente, que devia ser realmente muito difícil para ela ter tanta responsabilidade, ao mesmo tempo que se ocupava de duas filhas pequenas e do marido doente.

Em sua última vinda a Belo Horizonte, sempre curioso e interessado, ele se impressionou com os grandes Ficus do Parque Municipal. Sua leitura do passe, naquele momento particular, foi muito esclarecedora para nós, assim como o é sua leitura de temas cruciais ou novos para a psicanálise – a interpretação, a depressão, a neurose obsessiva feminina, a prática nos CPCTs. Foi um privilégio tê-lo conosco mais uma vez. Sua lembrança, seus textos e suas palavras permanecem entre nós. Ele será sempre uma referência epistêmica, clínica e política na psicanálise de orientação lacaniana.



 
   
   
   
 
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