
Marcelo Magnelli
Editor
Caro leitor,
Em um jogo onde espelho e olhar convergem e divergem de vasos, objetos e Coisa, Daniela resgata a importância do Simbólico e de seu desvanecimento com a torção do espelho plano, uma retomada do Lacan do Esquema Óptico a partir da apresentação realizada por Paulo Gabrielli no SFP de 26.08.
O ATE convidou o aluno da Especialização em Teoria Psicanalítica de Orientação Lacaniana, Dr. Daniel Isop, para pontuar o que lhe impactou na Conversação sobre a Medicalização na Infância e Adolescência, confira!
Boa leitura.



O Esquema Ótico de Lacan
Daniela Araújo
Resenhista

Tivemos o prazer de ver e escutar nesta última quarta-feira - dia 26 de agosto - Paulo Gabrielli em sua transmissão acerca do Esquema Óptico de Lacan, no Seminário de Formação Permanente, que esteve sob coordenação de Marcelo Magnelli.
Poderia parecer cansativo caso ele se detivesse na lógica física e puramente óptica, porém fez uma interessante abertura à compreensão do Esquema, se desde a leitura clínica. Para entendê-lo, seria preciso sair da submissão óptica e passar para a submissão imaginária; até porque é um modelo, disse.
Segundo Paulo, Lacan se autoriza a trabalhar o esquema ótico a partir do esquema de Freud na Interpretação dos Sonhos. O olho seria o que representa o sujeito para a psicanálise e o espelho é colocado como o Outro do simbólico. O vaso é concebido como o corpo, o corpo real; e as flores como o objeto e suas funções.
O sujeito humano, porém, não alcança ver o objeto real, assim como as possibilidades de acesso ao corpo são limitadas. Lacan aponta que para o ser humano ver algo da imagem real, ele precisa do Outro. O homem precisa do Outro para perceber sua entrada no mundo imaginário. Para Lacan, o mundo imaginário é visível a partir da relação simbólica.
O que vai sustentar a análise? O analista permite que a partir do ponto do ideal do eu, o sujeito possa ir fazendo-se de outra maneira. A imagem virtual vai desaparecendo, o engano do neurótico pode ir sendo desfalecido. O sujeito então vai poder passar a ver aquilo que ele não via: o objeto imaginarizado e estruturado na fantasia.
O sujeito depois da análise deixa de se iludir? Segundo Paulo, Lacan diz que não, que ainda é mantido algum grau de ilusão, porém é feito um atravessamento e pode-se ver o objeto enquanto objeto do desejo. A questão do final de análise então seria que o sujeito pode ser um outro ou ao menos procurar saber se aquilo que ele quer é o que ele deseja.




Comentários sobre a Conversação
Daniel Isop
Aluno da Pós-Graduação em
Teoria Psicanalítica de Orientação Lacaniana
No início da conversação foram apresentados depoimentos de Tânia Abreu, Denise Martins, Mônica Hage e Lygia Viegas do ponto de vista da psicanálise, da psiquiatra infantil e da educação escolar com riqueza de detalhes, muitos dados e relatos de casos da respectiva experiência profissional. O termo "medicalização" nomeia a tendência nas sociedades contemporâneas de declarar eventos psíquicos e sociais da existência humana, que não se enquadram num padrão de uma suposta normalidade, como domínio da pesquisa e responsabilidade médica. Como consequência, também para crianças e adolescentes, há um aumento enorme de diagnósticos médicos e tratamentos medicamentosas com efeitos, em muitos casos, duvidosos e até adversos. Foi citado principalmente o uso abusivo de cloridrato de metilfenidato (Ritalina). Ficou esclarecido que não se tratava de recusar, de forma categórica, o uso de medicamentos que, em determinados casos de doenças psiquiatrias, comprovam eficácia e apresentam um ganho valioso para o paciente e a prática médica em questão. Foram apontados como fatores que provocam dificuldades nas famílias e nas escolas: exigências dos pais e professores que se ausentam de uma reflexão crítica, insuficiências do sistema educacional e do sistema de saúde, tendências prejudiciais nas sociedades como mudanças do estilo de vida com excesso de estímulos, que sobrecarregam as crianças. Transferindo assim a responsabilidade para médicos e outros agentes do sistema de saúde, exigindo a aplicação de psicofármacos e outros tipos de tratamento.
A discussão acesa que seguiu trouxe valiosos depoimentos e esclarecimentos. Ficou esclarecido que há num lado uma indústria farmacêutica interessada em aumentar a produção e consequentemente os lucros, sendo acompanhada por uma parte dos psiquiatras que busca diagnosticar seguindo uma abordagem meramente biológica, e tratar através do uso exclusivo de psicofármacos. No outro lado tem iniciativas de vários segmentos da sociedade, dos psicanalistas e daqueles psiquiatras, que tem como abordagem diagnóstica, a escuta de cada sujeito singular, e como terapêutica o uso da palavra, sendo eles restritivo na aplicação de medicamentos, e assim favorecendo a humanização da existência humana e da medicina como contraponto à crescente medicalização.
A conversação foi encerada com a intensão de promover uma continuidade da discussão deste assunto tão importante para todos. Lygia nós convidou para o "IV Seminário Internacional a Educação Medicalizada" que acontece em Salvador no dia 01 a 04 de setembro.

EXPEDIENTE:
Coordenador do ATE: Pablo Sauce
Editor: Marcelo Magnelli
Resenhistas: Carla Fernandes, Cláudio Melo, Daniela Araújo, Ethell Pol, Júlia solano, Liliane Sales, Luiz Felipe Monteiro, Marcelo Magnelli, Rogério Barros e Wilker França. |
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