[Ação Lacaniana Entre-vista – Nº8] Entrevistas com Fhero, Maria Wilma S. de Faria e o texto de Damodara Rosalino sobre o tema Jovens Go

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Nossa “Ação Lacaniana Entre-vista” apresenta neste número três formas de abordar o tema “Jovens GO”. A primeira capturada na conversa com Fhero (o artista que ilustra essa edição), ele mesmo jovem que demonstra a forma como sua arte enlaça sua vida e sua ação na cidade. A segunda, pela “entre-vista” com a psicanalista Maria Wilma S. Faria, membro da EBP/MG e coordenadora do TyA no Brasil. Ela aborda o tema a partir de sua vasta experiência com a clínica com jovens. E a terceira, um texto, é o “ponto de vista” de Damodara Rosalino, que se apresenta como “jovem aluno do Instituto de Psicanálise, psicólogo em formação e jogador”. Vale conferir!

Entrevista Fhero

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Entrevista Maria Wilma S. de Faria

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Maria Wilma S. de Faria é Membro da EBP e AMP, responsável pela rede TyA (Rede de Toxicomania e Alcoolismo do Campo Freudiano) no Brasil.

 

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Pokémon Go, one or two?
Por Damodara Rosalino (jovem aluno do Instituto de Psicanálise. psicólogo em formação e jogador)

Os monstrinhos de bolso (Pokémon, abreviação de pocketmonsters) atacam mais uma vez. Porém, se na década de 1990 sua invasão foi pelos televisores, em séries de desenho animado e jogos para console, hoje eles literalmente estão em nossos bolsos, ao menos para aqueles que resolverem capturá-los ao mesmo tempo em que são capturados por sua dinâmica.

Surpreendentemente, o novo ‘boom’ dos monstrinhos conseguiu alcançar em popularidade sua marca de duas décadas atrás, senão superá-la. Mas o que tem aí? Um enredo simples e fantástico cativava o público mais juvenil dos anos 90. Ash Ketchum, da cidadezinha de Pallet, ao completar 10 anos finalmente está autorizado e pode sair desbravando o mundo habitado por pequenos e grandes monstrinhos, para se tornar um Mestre Pokémon. E aqui, ao final de cada episódio, é repetido um imperativo: “Temos que pegar, todos” (gotta catch them all).

Se antes a saga restringia seu público a participar da fantasia de forma estática, em frente aos televisores, hoje, com o advento dos celulares espertos (smarthphones), ela induz ao movimento inseparável do aparelho. Cada um, munido com seu gadget, tem de sair por aí em busca dos monstrinhos e batalhas com outros jogadores.

A proposta também é simples e inovadora, especialmente para aqueles tradicionais jogadores do videogame. Com o mundo mapeado (googlemaps) e sua localização acompanhada (GPS), diversos pontos de interesse estão espalhados pelo mapa e podem ser verificados pelo jogador a partir de sua telinha, desde que ele vá até lá. De igrejas a grafites em muros, esses pontos concentram alguns facilitadores e pokémons para completar o objetivo do jogo, propositalmente aberto – não apenas capturar todos e repetidas vezes, mas também tornar-se o mais forte Mestre e treinador Pokémon.

Aqui, as coisas tornam-se assustadoramente grandes em seu alcance e dimensão, ao menos em seus primeiros dias de lançamento; por onde o jogo Pokémon Go passa, questões se abrem.

Neste quadro pensamos em seu “Boom!” popular destacadamente nostálgico. Inseparável está o mundo dos símbolos infantis da maior parte do público cativado, ou capturado. Curiosamente seus maiores consumidores não estão entre as crianças de hoje, mas nas de ontem que não abrem mão de encontrar em seus bolsos um pedacinho de gozo.

O encontro com o outro, embora sugerido em proposta, está mais para um esbarrão, um choque sem querer, entre aqueles que estão fissurados à pequena tela do celular – tela muitas vezes rachada pelo descuido de uma mão escorregadia. O prazer aqui, e à primeira vista, continua autoerótico. Ainda que um Outro (servidor) nos diga por quais caminhos seguir, o lugar mais seguro ou com quais pessoas para que meu objetivo não fuja, vemos que o laço se coloca em um ponto pré-determinado, por mais que tenha sido marcado entre os pares, pequenos outros, um encontro lá.

A contínua tentativa de expansão dos monstrinhos persevera com uma aposta: estar presente em todo o globo; que outras formas de repetição venham a ser aderidas e que o Um apareça para todos para um grande evento global, o cúmulo da esfera[1].

 

 

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[1] Este evento global, para a captura do pokémon lendário e único, é uma aposta da empresa responsável pelo jogo. Os jogadores esperam que aconteça em breve. Curiosamente, o nome deste pokémon é ‘Mew-two’.
IMAGENS:
1- Fhero PDF Crew
2- Foto Fhero
3- Foto Maria Wilma S. de Faria
4- Logo do “Jovens GO” por Conrado Almada