“Leituras em Cena – Conversa sobre Sísifo – Texto de abertura.”

Do que não cessa

Por Maricia Ciscato – Pelo coletivo do “Leituras em cena”

Em 2015, fui atravessada pelo livro “Rio – Histórias de vida e morte”, de Luiz Eduardo Soares. A arte literária contrastada com a violência de nossa cidade misturou-se às minhas próprias experiências na tentativa de contribuir com a modificação da devastação que é a política de segurança pública do Rio de Janeiro. Esse livro me lançou a uma pergunta que até então eu não ousava formular: Como é possível, depois de (muitos) fracassos recorrentes, persistir?

Em 1930, Freud já nos dava, com sua clareza explosiva, o fim da esperança de uma sociedade feliz. Ele escreveu:

“(…) o que há de realidade negada de bom grado é que o ser humano não tem uma natureza pacata, ávida de amor e que no máximo até consegue defender-se quando atacado, mas que, ao contrário, a ele é dado o direito de também incluir entre as suas habilidades pulsionais uma poderosa parcela de inclinação para a agressão. Em consequência disso [segue Freud], o próximo não é, para ele, apenas um possível colaborador e um objeto sexual, mas é também uma tentação, de com ele satisfazer a sua tendência à agressão, de explorar sua força de trabalho sem uma compensação, de usá-lo sexualmente sem o seu consentimento, de se apropriar de seus bens, de humilhá-lo, de lhe causar dores, de martirizá-lo e de matá-lo. Homo homini lúpus [o homem é o lobo do homem] (…)”[1]

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