Orientação Lacaniana
Dezembro 2013
Além do Édipo ou Depois do Édipo Para encerrar este ano de 2013, e depois de um exitoso ENAPOL VI – Encontro Americano de Psicanálise de Orientação Lacaniana – veiculamos neste espaço da Diretoria da EBP o texto da intervenção realizada por Jacques-Alain Miller no Segundo Congresso Europeu de Psicanálise (PIPOL 6), no dia 7 de julho de 2013. Este Congresso é o equivalente europeu do nosso ENAPOL, e congregou as Escolas européias em torno do tema "Depois do Édipo, as mulheres se conjugam no futuro". O tema da Conferência de Miller, no entanto, não foi "Depois do Édipo," mas "Uma reflexão sobre o Édipo e seu mais além", tal como Vera Ribeiro o traduziu.
Miller retoma aí o Seminário 6 de Jacques Lacan, O desejo e sua interpretação, que acabara de ser publicado em Paris, para introduzir um além do Édipo desde as primeiras interpretações do sonho do pai morto, relatado por Freud e extensamente comentado por Lacan. De maneira a princípio enigmática, Miller distingue aí dois mais além do Édipo: o primeiro, determinado pela natureza do significante e o segundo, pela confrontação imaginária do filho com o pai, na direção da fantasia. Ele propõe assim que a fantasia se emancipa do Édipo e aponta que o grafo do desejo, formalizado com todas as suas coordenadas neste Seminário, não inclui a metáfora paterna, introduzida no Seminário 5. Miller opõe o desejo, estrutural e metonímico, à metáfora paterna, que se apóia no mito de Édipo. Assim, a leitura lacaniana de Hamlet se opõe, em vários pontos, à sua leitura do Édipo freudiano.
Lacan segue Freud ao olhar para Hamlet, mas vai além de Freud com o mesmo Hamlet, variante dissimétrica do Édipo. Enquanto este último não sabe e passa ao ato, o primeiro sabe e não consegue agir. A peça nos daria assim acesso ao S(A/): em A, o lugar da fala, falta alguma coisa. Voltamos ao grande segredo da psicanálise, enunciado por Lacan no Seminário 6: "Não há Outro do Outro. Não há o Nome-do-Pai, é o que apareceria para Lacan a partir de Hamlet: sigamos Miller para entendê-lo, pois isso não é sem consequências sobre os próximos Seminários.
Podemos nos perguntar, a partir desta Conferência: que diferença há em dizer "depois do Édipo" ou "além do Édipo"? Quais as consequências disso para as mulheres, mas também para os homens?
Boa leitura e até fevereiro de 2014!
Elisa Alvarenga
Uma reflexão sobre o Édipo e seu mais além
por Jacques-Alain Miller
Algumas palavras para encerrar este Congresso[1] .
Eu me perguntei se poderia dar um ponto de basta a este Congresso. Mas as intervenções que se fizeram ouvir são demasiado pululantes, demasiado diversas também, para poder cogitar dar um autêntico ponto de basta.
Eu me perguntei se iria concluir com uma abertura sobre o que será, ou seria, Pipol 7, que acontecerá dentro de dois anos. Mas a própria experiência que fizemos com Pipol 6 mostra que fixar um assunto com dois anos de antecedência é cedo demais.
Eu me perguntei se faria projetar numa tela a capa do Seminário 6, de Jacques Lacan, com a ilustração que escolhi para esse Seminário. Há muito o que dizer sobre esse quadro de Bronsino. Trata-se, evidentemente, de uma exaltação do corpo feminino. Seu nome tradicional é O triunfo de Vênus. Mas esse quadro merecia estar neste Congresso sobretudo porque, desde que foi produzido, ele faz enigma aos intérpretes. Alguns chegaram até a pensar que ele era uma ilustração do desvelamento, que seu verdadeiro assunto era, de algum modo, a própria interpretação. Mas, nesse caso, eu só poderia trazer considerações de segunda mão, a partir da massa de interpretações que foram feitas desse quadro.
Gostaria, portanto, de apenas situar em colofão deste Congresso, uma reflexão sobre o Édipo à qual convidam tanto o seu título quanto o Seminário 6.
"O voto do Édipo"
Depois do Édipo não é contra o Édipo, também não é o anti-Édipo. Depois do Édipo é o Édipo recolocado em seu lugar, o Édipo freudiano, enquadrado, apreendido com seus limites.
Sabemos onde Lacan desembocará: ele dirá que o pai é um sinthoma e que o Édipo não poderia dar conta da sexualidade feminina. Mas, isso, o Lacan de O desejo e sua interpretação ainda não o diz. Ele está no caminho que o conduzirá a dizê-lo e a abrir um mais além do Édipo.
No Seminário 6, a noção de um mais além do Édipo se apresenta desde as primeiras interpretações dadas do desejo do sonho, e até mesmo desde a interpretação do primeiro sonho que Lacan escolheu colocar em exergo nesse Seminário. Trata-se do sonho do pai morto, no qual o filho sonha que seu pai estava morto e não o sabia.
Conhecemos a interpretação desse sonho dada por Freud. Essa interpretação é, de um lado ao outro, edipiana. Ela acrescenta, depois do ele estava morto – frase cujo sujeito é o pai -, segundo seu voto: o voto do filho, "o voto de Édipo"[2] , como diz Lacan.
Lacan não se detém nessa interpretação edipiana. Ele diz, ao contrário, que "se trata agora de dar seu pleno alcance ao que [...] vai bem mais além desse voto"[3] , que ele qualificou precisamente de "voto do Édipo". Tomo essa fórmula – extraída de um Seminário oral -, como a marca do desejo de Lacan, já presente neste Seminário, de passar para o mais além do Édipo.
Que o desejo de Lacan seja ir mais além do Édipo nós o percebemos, tanto mais que, nessa frase que acabo de citar, precisamente, o que ele chama aqui de o que vai bem mais além do Édipo não está tão claro. Há como uma flutuação. O que evidencia ainda mais a insistência posta por ele em buscar o "mais além" do Édipo. O que há, então, bem mais além do Édipo?
Dois mais além do Édipo
A interpretação edipiana desse sonho é portanto: o pai morto, segundo o voto do filho. E a interpretação de Lacan diz: a interpretação edipiana "não é senão a máscara do que há de mais profundo na estrutura do desejo" [4] . E o que há de mais profundo na estrutura do desejo é – eu o parafraseio – a impossibilidade de escapar da "concatenação da existência, porquanto ela é determinada pela natureza do significante"[5] .
O que haveria de mais profundo na estrutura do desejo e que mascararia o Édipo – a leitura edipiana – seria, portanto, a cadeia significante. Lacan deseja ultrapassar o limite edipiano de Freud, numa direção cujo sentido ele formula de uma maneira que permanece muito geral e que recorre ao que é, por fim, a universalidade da cadeia significante.
Mas Lacan propõe, de algum modo, um segundo mais além do Édipo, quando ele faz da confrontação do filho com o pai uma confrontação onírica imaginária, na qual o pai figuraria como o alter ego, rival do sonhador.
O primeiro mais além do Édipo é, então, o simbólico, a cadeia significante. O segundo, é a relação imaginária, a relação a–a'. E, sob essa forma imaginária, se delineia a fantasia inconsciente que obedece à célebre fórmula S barrado, punção, pequeno a. De fato, é essa fórmula da fantasia que articula o que há, para Lacan, de mais profundo na estrutura do desejo. Ela é, ao longo do Seminário, justificada, elaborada, perlaborada e também transportada, modificada, aperfeiçoada.
No começo do Seminário, ali onde estamos [6] , o pequeno a da fantasia, da fórmula S barrado, punção, pequeno a é o da relação imaginária: o pequeno a do estádio do espelho, da imagem do outro, do corpo próprio concebido como o objeto prevalente do desejo e o objeto matricial de todos os objetos do desejo. É essa imagem que dá seu suporte ao sujeito, definido por Lacan como barrado, anulado, abolido pela ação do significante.
Contudo, esse Seminário é feito, diria eu, para ir mais além do Édipo, na direção da fantasia. E ele nos mostra que as interpretações, as respostas de Freud ao desejo se inscrevem sobre o muro do Édipo.
No fundo, Lacan busca uma porta disfarçada para ir mais longe, na direção da fantasia. E essa relação S barrado, punção, pequeno a, essa relação afinal binária, com múltiplos sentidos, lhe parece mais profunda que a triangulação ou a quadrangulação edipiana. Esses dois elementos da fantasia, o pequeno a e o sujeito barrado, serão constantemente repensados ao longo do Seminário.
O desejo indexado pela fantasia
Não creio estar forçando o texto além da medida – ao dizer isso, acho, portanto, que o forço um pouco –, ao dizer que a fantasia, em sua articulação com o desejo, se situa mais além do Édipo, que ela já está se emancipando do Édipo e valendo como elemento de estrutura.
Vejam, aliás, o grafo do desejo de dois patamares, cuja construção Lacan terminou naquele ano, e que é conhecido pela maioria dos que aqui estão presentes. O que salta aos olhos é o que não figura nesse grafo, a saber: a fórmula com a qual Lacan formalizara o Édipo freudiano, a metáfora paterna. O grafo do desejo visivelmente não é construído sobre a estrutura da metáfora paterna. E, se aqui há um forçamento, trata-se do forçamento de Lacan, quando ele faz entrar a fantasia no sonho. Ele se retifica na lição seguinte ao indicar que a significação do desejo não se satisfaz por ser abordada pelo sonho, mas que o desejo deve ser tomado, eu o cito, por "um pedaço que não é dado nos sonhos" [7] , ou seja, a fórmula da fantasia.
Poderiam dizer que o Édipo corta a teoria do desejo pela raiz. Que o Édipo, quando nos referimos a ele para abordar a teoria do desejo, limita a teoria do desejo ao desejo infantil, que é duplo, como o avesso e o direito: o desejo do assassinato do pai e o do gozo da mãe. Ao passo que o desejo teorizado por Lacan é precisamente um desejo que não tem objeto próprio, cujo objeto é, eu o cito: "o suporte de uma metonímia essencial"[8] .
Vê-se que, aqui, Lacan é assediado por uma contradição. O desejo tem um objeto? Ele tem objetos? Quem são os objetos do desejo? Ou, fundamentalmente: o desejo não tem objeto, ele é apenas metonímico?
A solução proposta por Lacan nesse Seminário é afirmar que o desejo, como metonímico – o que quer dizer essencialmente não edipiano –, é enquadrado, regulado, indexado pela fantasia, ou seja, por uma relação permanente do sujeito com um pequeno a.
Na sequência de seu ensino, para sair dessa contradição, veremos Lacan lançar mão do plano B, se assim posso dizer. E isso, quando ele inventará fazer do objeto uma causa, fazer do objeto fantasmático uma causa do desejo e não seu atrativo.
Hoje, estamos familiarizados com isso, mas foi uma novidade inventar que o objeto do desejo está atrás do desejo, o provoca, o engancha, o convoca a ser, uma vez que sempre pensamos os objetos do desejo como estando na frente do sujeito e do desejo e que o sujeito, no desejo, os visaria. A solução encontrada por Lacan para a contradição que trabalha esse Seminário 6 é o objeto causa, é fixar o objeto como desencadeador do desejo e não seu alvo.
E, aqui, vemos que a problemática do desejo não é mais edipiana e, sim, para falar com propriedade, estrutural. Lacan se esforça para desnudar a estrutura – a estrutura posta a nu por seu próprio psicanalista, para retomar um título célebre de Marcel Duchamp. Ao passo que, no Édipo, a estrutura é velada pelo mito.
O essencial, e que ainda não está concluído no Seminário 6, é a cisão entre a estrutura e o mito. O mito, como dirá Lacan mais tarde, dá uma forma épica à estrutura, mas, ao fazê-lo, ele, ao mesmo tempo, a vela. Essa cisão é aqui sugerida, trazida como se por alusão. Ele o concluirá em seu escrito "Dialética do desejo e subversão do sujeito"[9] , no qual retomará seu grande grafo dizendo: o complexo de Édipo é um mito, ao passo que o complexo de castração é, para falar com propriedade, a estrutura.
Na teoria do Édipo, a entrada em jogo da lei é, portanto, referida ao pai, quando ela se revelará consubstancial, se assim posso dizer, à estrutura da linguagem.
Hamlet em contraponto ao Édipo
No Seminário 6, o Édipo é essencialmente posto em questão por Hamlet. Nesse Seminário, a análise do Hamlet, de Skakespeare, prossegue em contraponto ao Édipo. Esse paralelo se autoriza de Freud que o delineia na Traudeutung. A análise de Hamlet, por Lacan, pode encontrar sua caução nessa referência a Freud. Mas fica claro que, aqui, Lacan rivaliza com Freud, uma vez que ele extrai bem mais de Hamlet e faz disso algo diferente do que Freud havia ali encontrado. Aflora, aqui, toda a ambiguidade da relação de Lacan com Freud: ele segue a indicação de Freud no sentido de olhar a propósito do Édipo do lado de Hamlet. Ele obedece sua indicação, mas, ao mesmo tempo, ao implementar sua análise de Hamlet, não é exagerado dizer que ele suplanta seu mestre.
Vocês verão todas as referências ao Édipo na parte do Seminário que se ocupa de Hamlet. De um lado, elas estão situadas sob o signo da equivalência. Lacan pôde dizer que Hamlet foi posto por Freud num nível equivalente ao Édipo. Ou que o "valor de estrutura" de Hamlet "é equivalente àquele do Édipo"[10] . Ou ainda que Hamlet é "um tema igual ao de Édipo"[11] .
Mas dirá também que Hamlet é uma variante do Édipo, que há dissimetria de um ao outro. Tudo isso poderia ser objeto de um estudo detalhado, ao qual eu procederia se desse um curso. Aqui, eu apenas o evoco.
A dissimetria salta aos olhos, em primeiro lugar, quanto à posição do sujeito, no que concerne ao ato. Hamlet é bem conhecido por protelar o ato, diferi-lo, procrastiná-lo – palavra que, hoje, se tornou familiar para nós, mas que Lacan qualifica, na época, de palavra erudita utilizada principalmente pelos ingleses. Entrementes, a língua mudou. Quanto ao Édipo, ele faz esse ato sem regatear e, sobretudo, sem o saber. Portanto, entre os dois heróis há também uma posição diferente no que concerne ao saber. Édipo não sabe e o pai menos ainda. Édipo não sabe que é o filho e o pai não sabe que é o pai desse desconhecido que o mata. Hamlet, desde o primeiro ato da peça, sabe. Ele sabe porque o pai morto sabe e lhe diz.
O pai morto sabe que foi traído e o diz ao filho, encarregando-o de uma missão de vingança. É sobre esse ponto, precisamente, que, à diferença de Édipo, Hamlet sabe. Ele sabe da desgraça do pai, sabe que a traição apagou esse guerreiro tão bom, tão maravilhoso, exemplar, etc. É sobre esse ponto que Lacan diz, a propósito de Hamlet : "o que constitui o valor da peça", é que ela nos dá acesso "ao sentido do símbolo S ()".[12] A esse respeito, posso apenas remetê-los às páginas 352 a 354 que são, sem dúvida, as três páginas de maior peso desse Seminário.
"O que Hamlet é informado por esse pai [...], é a irremediável, absoluta, insondável traição do amor [...]. É a falsidade absoluta do que apareceu [...]. Há ali a resposta. A verdade de Hamlet é uma verdade sem esperança". [13] E Lacan diz então: "Devemos poder, dessa resposta, dar uma fórmula que cinge o mais perto possível o que motivou a escolha desta sigla S()", que significa que "em A, o lugar da fala, o lugar em que repousa [...] o conjunto do sistema dos significantes [...], falta alguma coisa [...]. Este é, se assim posso dizer, o grande segredo da psicanálise. O grande segredo é – não há Outro do Outro". [14]
É preciso ressituar este enunciado famoso "não há Outro do Outro" no lugar exato em que ele foi introduzido: no lugar onde se verifica haver alguma coisa de podre, se assim posso dizer, não apenas no reino da Dinamarca, mas também no rei da Dinamarca.
Não há o Nome-do-Pai
Para saber o que é o Outro do Outro, basta ler o Seminário 5 [15] , precedente a este, assim como o final de "De um questão preliminar.." [16] . O Outro do Outro é uma categoria forjada pelo próprio Lacan e utilizada por ele nos tempos que precedem o Seminário 6. Ele a utiliza como equivalente ao Nome-do-Pai, a utiliza como significante da lei inscrito na linguagem. A partir da distinção introduzida por ele entre o Outro da lei e o Outro da linguagem, tem-se a posição do Outro do Outro: o Outro da lei sendo o Outro do Outro da linguagem.
E o grande segredo que aparece para Lacan – o primeiro -, a partir de Hamlet, é precisamente que não há Outro do Outro, a saber, o Outro é furado, inconsistente. Ele, então, faz saltar a rolha do Nome-do-Pai. E isso é transportado muito claramente sobre o grafo de Lacan.
O grafo não se detém ao alto, à esquerda, ali onde poderia estar escrito S(A). Esse A é barrado e a flecha continua mais abaixo, até a localização da fantasia. É essa distância, esse segmento entre S() e a fantasia, de um à outra, que Lacan ganhou nesse Seminário – na preparação desse Seminário, imagino – e que ele oferece a seus ouvintes. Com efeito, é um passo maior. E ele repetirá muito exatamente esse movimento em seu Seminário 16, intitulado: de um Outro ao outro [17] : o Outro, com A maiúsculo, se situa em S(); o outro, com a minúsculo, é o objeto a da fantasia.
É notável que Lacan, sobre esse ponto, faça silêncio. Ele não dá, a seus ouvintes, a adição. Basta ler essas três páginas do Seminário 6 e se referir ao Seminário do ano precedente, para perceber (2+2=4) que isso significa que o Nome-do-Pai não é a pedra angular da arquitetura linguística, social, dialética, etc. Ele não diz que acabara de degradar o que, no ano anterior, ele promovera: esse Nome-do-Pai que regozijava uma parte importante de seus ouvintes, que nele encontravam os ecos da tradição cristã.
Teria sido para manejar seus ouvintes que ele fez silêncio? Seria para não fechar a questão demasiado depressa? De todo modo, poderíamos ordenar os diferentes Seminários a partir dessa questão.
No final do Seminário 6, nós já o vemos dar-se conta de que o objeto a da fantasia não é a imagem do corpo próprio e que é muito mais probatório colocar nesse lugar os objetos chamados de pré-genitais. Vemos a báscula se fazer no Seminário. Das cem primeiras páginas citadas por mim até as últimas, o objeto a muda de identidade. No começo, ele era a imagem do corpo próprio. No final, Lacan situa nesse lugar os objetos pré-genitais.
No Seminário seguinte, o Seminário 7, ele mostrará que o lugar principal é ocupado não pelo Nome-do-Pai, mas pelo que ele chama de a coisa, a saber: o gozo. A coisa vem no lugar do Nome-do-Pai que acabara de ser destronado.
O Seminário: a transferência é o confronto entre o objeto a e a coisa, um novo pensamento sobre a transferência, desta vez a partir do objeto a.
O Seminário 9: "A identificação" isolará a função idealizante do significante e trabalhará o conceito de sujeito barrado.
O Seminário 10: a angústia exporá a lista completa dos objetos a : aos objetos de Freud, Lacan acrescenta o olhar e a voz.
Por fim, ele preverá explicar, no Seminário 11, as consequências da página 353 do Seminário 6, ou seja, explicar que não há Outro do Outro significa que não há o Nome-do-Pai e que, no máximo, há nomes-do-pai. Aqui, ele considera que a mordaça posta em sua boca tinha sentido. E, com efeito, ele nunca retomou a questão como tivera a intenção de fazê-lo.
Essas foram algumas palavras que pude lhes dizer. Não é um ponto de basta. Não é uma abertura para daqui a dois anos. Comuniquei-lhes aquilo que, no momento em que estamos, continua a me interessar no Seminário 6. Espero que se passe o mesmo com vocês.
Obrigado.
Tradução: Vera Avellar Ribeiro
[1] Texto estabelecido por Monique Kusnierek, não revisto pelo autor.
[2] Lacan J., Le Séminaire, livre VI, Le désir et son interprétation, Paris, Éditions de la Martinière, Le Champ freudien, 2013, p. 118.
[3] Ibid.
[4] Ibid.
[5] Ibid.
[6] Ibid., p. 119.
[7] Ibid., p. 124.
[8] Ibid.
[9] Lacan J., Escritos « Subversão do sujeito e dialética do desejo », Rio de Janeiro, J.Z.E., 1998, p.834-835.
[10] Lacan J.,Le désir et son interprétation, op.cit., p. 324.
[11] Ibid., p. 347.
[12] Ibid., p. 352.
[13] Ibid., pp. 352-353.
[14] Ibid., p. 353.
[15] Lacan J., O Seminário, livro 5: as formações do inconsciente, Rio de Janeiro, J.Z.E., ........
[16] Lacan J., Escritos, « De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose », Rio de Janeiro, J.Z.E., p. 537-590.
[17] Lacan J., O Seminário, livro16: de um Outro ao outro, Rio de Janeiro, J.Z.E., 2008.